sábado, 31 de julho de 2010

Dos livros

Não sou dos livros e leio poucos por isso. As canções são mais imediatas e permitem num curto espaço de tempo uma vertigem maior naquele breve período. No ano passado, no Verão algarvio, tentei ler o Fédon e não consegui acabar. Estou a ler agora A câmara clara e a tarefa está a ser mais simples. Tenho ainda alguns poemas da obra completa da Sophia para ler e pretendo recomeçar o livro que deixei enterrado na areia daquela praia deserta no centro do Algarve. Poesia, Filosofia e considerações sobre a fotografia e daí para a morte. Os discos perdem terreno e a leitura ganha, aos poucos, um espaço mais nobre e central. Todos os dias rumo ao fim da vida.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Futurismo Passado

O vídeo que partilho convosco já é um clichê da época antes mesmo desta acabar. O surfe, o verde, a imagem rarefeita e antiga e a busca do paradisíaco. O nome da banda troca as primeiras letras de um nome conhecido dos filmes. Com Truise. Lido em português até parece bom e parece-me ser mais um clichê da época. Está é sem dúvida a época em que o lugar-comum é obrigatório e recuperamos tudo o que nos liga ao passado para tentar construir este presente e um possível futuro. Algumas das novas experiências sonoras que tenho escutado são assustadoramente sofríveis, por isso procuramos o conforto no antes e no que é sedutor e capta a atenção. Como neste vídeo para "Sundriped", tema de produtor cheio de compressão e teclados futuristas do passado.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Katsushika Hokusai



A Grande Onda
Katsushika Hokusai (1889)
Xilogravura
25,7 × 37,8 cm
Museu Britânico, Londres, Reino Unido (Cópia)

domingo, 25 de julho de 2010

Boa viagem

Sábado à noite em Lisboa, recordando as viagens ao sul de Espanha ao som daquele techno pegajoso com os arranjos de balões a esvaziar. Sentamo-nos nas cadeiras cá fora à espera que os outros concertos acabem para que os nossos comecem. O Parque do Bom Retiro e a Praça das Flores e depois um tipo mesmo fixe com banda a ver a América. Oferecem-se discos. Tudo ali a acontecer, as pessoas presentes aplaudem, no fim há sorrisos e alguém parte para longe, seguindo o seu caminho. Nós também seguimos o nosso. Todos seguimos o nosso caminho como é natural. Voltaremos a encontrarmo-nos por aí quando os amplificadores, os bombos e os discos quiserem. Um desejo de boa viagem.

sábado, 24 de julho de 2010

Cuidado e discernimento

Estes dias que passam pedem cuidado e muito discernimento. Dar a resposta ou o troco pode significar que se pode estar a dar demasiada importância ao todo. O melhor remédio continua a ser o silêncio. O amarrar da palavra para retirar a importância total ao que é disparado por criadores e críticos. Apagar selectivamente aquilo nos chega electronicamente. A leitura também exige uma reflexão e uma tomada de posição pessoal. Nunca desejei ser o arqui-inimigo de alguém. A partir de hoje tenho a certeza, deixei de ser o arqui-inimigo. Discerni e com cuidado reflecti: nunca serei um inimigo, simplesmente porque tenho muito poucos amigos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Clássico do Hip Hop #11

O clássico em destaque neste tempo de festa é o "Nuthin' but a 'G' Thang" de Dr. Dre. Acompanhado pelo grande Snoop Doggy Dogg, e contribuindo para a explosão do G-Funk, esta faixa é mais do que uma grande canção do género. Ultrapassa-o e é uma das melhores canções da história. Dr. Dre demonstra neste tema a sua produção inovadora. O contraste perfeito entre a tarola e o bombo, as amostras, os arranjos e tudo no lugar certo para as vozes surgirem, com a fluência dos mestres, e colocarem o peso e a dicção que as palavras pedem. O tempo não pede mais velocidade, a festa já pode começar, junto à estrada, no bairro, no parque verde. Ou mesmo na praia ou na piscina. Dr. Dre e um clássico de primeira água.

Artista: Dr. Dre
Faixa: Nuthin' but a 'G' Thang
Álbum: The Chronic
Ano: 1993
Verso: And who gives a fuck about hoes?
So just chill, til the next episode...


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domingo, 18 de julho de 2010

Arte-alegria

Passo por esta frase, escrita por Almada Negreiros, sempre que apanho o metropolitano quando vou pela entrada norte. Atravesso o jardim, deixo a palmeira do lado direito, desço as escadas rolantes e a frase está lá depois das relações geométricas. Alegro-me quando partilho publicamente parte da razão para o início, junto à fonte com os peixes, onde tudo começou e onde tudo vai terminar. Sonho chegar ao fim e registar novamente o momento, com a descendência e uma vida cheia. A arte atravessa a vida, como as frases que se cruzam connosco. Há que ser solene, sóbrio e honesto. A alegria é a coisa mais séria da vida.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Batidas e Surfe

Os discos de hoje vêm comprimidos para depois justificarem o investimento na rodela física, o tal objecto de colecção que apodrece até tornar-se novamente petróleo. Será de graça e livre até ficares preso às camadas e camadas de som de cacofonia pura e as canções meio estragadas. Ser livre é precisamente o contrário, a liberdade não vem com consequências, através da liberdade sonhas e alcanças o mistério. Mistério concreto esse, de viagens loucas no meio da cidade esburacada, de trânsito infernal em busca do palácio real. E também hoje entendi que bastam apenas umas batidas e umas imagens de surfe, nada mais.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Capa do Ano



Certos discos valem pela capa. O disco longa duração de Best Coast vale pela capa. Obviamente também vale pelas canções, mas vejam bem esta capa do sol descente com o gato real à frente, a linha do estado da Califórnia, o mar e a linha de costa com palmeiras em perspectiva, o mapa das estradas dentro das letras a dizer o nome da banda e atrás o céu amarelado. Há lá mais Verão que isto. E a costa oeste é mesmo a melhor costa. Decidido à custa desta capa e de canções tão grandes como as das bandas de raparigas de meados do século passado. É certamente a capa do ano, uma lição de estilo e de simplicidade. Já ganhou o título mais importante da temporada. A capa é tão importante quanto o conteúdo.

domingo, 11 de julho de 2010

A Praia Grande

Enquanto se avança nos preparativos de tão grande cerimónia, as bandas obscuras vão ficando mais esquecidas e o tempo de edição é adiado até data incerta. Quem aguarda é o criador e as suas ideias, que supostamente fariam sentido alguns meses atrás ou agora. Assim, talvez haja fruta fora de época até ao fim do ano ou depois. Quando existir mais motivação e espaço mental para organizar sessões de ensaio e de colagem de melodias ou ideias de rifes de teclados. As vozes já estão programadas há muito, as letras serão facilmente escritas. O balear aguarda o seu surgimento, uma espécie de onda refrescante quando esta já não for moda. Aí sim, valerá a pena afirmar que somos A Praia Grande. O ano do desafio também passa por aqui.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Da Nostalgia

Analisando e observando os cartazes e os grandes palcos dos festivais que inundam esta época de calor, verifica-se que as grandes bandas, os tais cabeças de cartaz dos ditos festivais, não são mais que as bandas que foram grandes há quase vinte anos. Esta é a época dos revivalismos bacocos, das épocas fora de época e também de uma certa ditadura da nostalgia. Tudo é passado, tudo o que temos é a memória de um tempo anterior, em que existiam modas, movimentos, bandas que todos gostavam ao mesmo tempo. Este é o tempo em que a juventude de hoje vive a juventude dos outros. E já não existem bandas únicas do nosso tempo, tudo é bom e mau ao mesmo tempo. Maldita nostalgia.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Vá Lá Senhora

Se existe expressão que intriga a nossa geração é “o tempo da outra senhora”. Da génese da expressão descobrimos que a senhora é a dona de casa, decide os gastos e as mordomias. Imaginemos então Portugal como a senhora e esta canção d’Os Golpes, “Vá Lá Senhora”, como o baile ao qual não pode faltar. Portugal não é só o presente, neste tempo das memórias, e se há banda que sintetiza o espírito pópe português são os Heróis do Mar. Convite feito, convite aceite e Rui Pregal da Cunha ajuda no mote. O resto já é conhecido, é folclore e roque éne role, paixão e tradição como só Os Golpes podem oferecer. Será um crime de lesa-pátria, uma traição, se esta senhora, Portugal de seu nome, não souber escolher Os Golpes como seu par para dançar este baile.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Maduro Julho

Julho, maduro Julho. O primeiro mês completo do Verão. O desafio imposto para este ano vai aos poucos sendo cumprido. O objectivo primeiro era editar estes primeiros temas o mais próximo do estado criativo primário. Sem cedências e aceitando o processo, os seus defeitos e erros. Tudo isso incorporado no final, mesmo que estivesse longe da perfeição. Agora sim, depois deste primeiro desafio, é possível procurar, com porventura maior alcance, novas formas de criar e um trabalho mais minucioso e de pormenor e canções cheias de pontes e de ganchos para seduzir a atenção do ouvinte. O método das repetições e amostras continuará a ser explorado, noutras paragens contudo. Maduro mês, este mês de Julho.