domingo, 28 de novembro de 2010

Circum-navegação

A rotina de um viajante sem memória é julgada como errância e rumo incerto. As noites passam com os concertos do costume, os aniversários previstos pelo tempo e os novos artistas a pisar os mesmos palcos de sempre. E tudo isto é bom. Mas de uma certa forma já não é bem ali que eu estou. Já ultrapassei o entusiasmo daquela paragem. O estar ali a olhar para os outros e a assistir. A assistência é uma mera justificação para a próxima acção. Constituir e provocar para defender e subsistir. Constituirei ora uma nova paragem diferente da anterior, e o entusiasmo da anterior paragem voltará a ser recuperado. Como quem viaja de doca em doca numa viagem de circum-navegação.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Francisco Tropa



Gigante
Francisco Tropa (2006)
Filme
Fotografia de Susana Pomba
Culturgest, Lisboa, Portugal

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Da Seriedade

A seriedade vem da integridade do carácter, da maneira de ser de cada um. Defendo a seriedade como forma de estar na vida. É diferente de levarmo-nos muito a sério. Devemos levar-nos muito a sério o tanto quanto. Claro que sem um pouco de humor próprio tudo fica demasiado rígido e teatral. O equilíbrio entre o real e o não-real, entre o verdadeiro e o fictício. A dificuldade desta equação está precisamente na definição do objectivo. A ingenuidade do início deu lugar a objectividade do meio do percurso. Navegar à vista com a certeza de saber quem nos quer bem e respeita a seriedade que nós colocamos nas coisas.

domingo, 21 de novembro de 2010

Folclore e Foguetes

A festa d'Os Capitães da Areia no Maxime iniciou-se com o regresso ao liceu com as Pega Monstro e o seu róque sónico e veloz cantado em português de letras cruas e simples de uma força adolescente. A seguir Os Capitães da Areia fizeram bailar a multidão ao som do seu folclore colorido e jingão, banda de melodias ricas e pegajosas e de bravos jogos de palavras. No fim o Manuel Fúria rodou os pratos mágicos. Ficarei com esta noite na memória, pois a festa foi explosiva mais do que perfeita. O fim do concerto com o rebentamento dos balões e os assobios a simular a subida dos foguetes é a imagem de toda uma geração.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Inocência na Canção

Pensar na inocência na canção pópe é ir aos anos cinquenta e descobrir aquelas primeiras bandas deste admirável mundo novo e relembrar a razão da existência das canções, das bandas e dos vídeos. Dou por mim agarrado a um vídeo de uma aparição na televisão dos The Everly Brothers em 1961. Isto é o passado e isto é a inocência de uma indústria a dar os primeiros passos. O gel, a camisa, o fato e a gravata, o olhar em direcção ao infinito. Primeiro a balada e a seguir a nova canção mais dançável e com as variações da canção pópe todas a acontecer, mesmo à espera que haja alguém disposto a usá-la para recuperar toda esta mística perdida, de volta à inocência.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Simbólico

No fim da noite do Coliseu dos Recreios existiu a sensação de dever cumprido. A junção de uma banda grande como The Walkmen com outra banda grande como Os Golpes, naquele palco nobre da nossa cidade lisboeta, foi única. O facto de uma das bandas chamar Lisbon ao seu último disco e outra ser de Lisboa aumenta a simbologia. Uma canta na língua inglesa e outra na língua portuguesa, duas bandas de róque solenes. Poderia ser assim sempre, um público que escuta com a devida atenção a banda de abertura e a ovaciona de pé no final, para ao fim das três primeiras canções da banda principal estar de pé novamente a dançar e a cantar.

sábado, 13 de novembro de 2010

Eterno Retorno

Sobre um piano que toca volta-se da viagem não programada mas há muito esperada, em eterno retorno à casa de onde saímos todos. Os confins daquele vale com um ribeiro a atravessá-lo. As notas que saem quentes das colunas colocam a imaginação e o futuro em movimento. Imagino ali uma casa grande com vista para o vale e para o ribeiro, longos passeios a pé pela serra, pelos pinheiros e eucaliptos e crianças a gritar com medo dos cães que ladram quando elas passam. Hortas e pomares, frutas silvestres e o fim da vida toda ali. O eterno retorno ao sítio onde apenas existe o bem e o amor.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Preâmbulo da Gravação

A semana decorre com a agitação e a falta de tempo de uma semana de férias. Enganam-se os horários e acorda-se à mesma hora de um dia laboral e aquilo que era para ser uma semana de gravação transforma-se numa semana de criação de faixas sonoras com batidas, melodias, tempos e efeitos. A voz ainda não entrou e as gravações ainda não começaram. É um preâmbulo do que irá a acontecer e o tropicalismo das primeiras ideias vai dando lugar ao caos sonoro que marca os compassos. As baterias estão terminadas e agora é preciso decidir se as gravamos ou criamos as canções para este disco marginal que se prepara para ser criado.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Segundo Postal Lido

O meu amigo Manuel continua a mandar postais para os músicos portugueses. Eu, que me considero alguém que tenta eliminar o tal fosso entre os dois mundos, o marginal e o mais popular, não podia estar mais de acordo com ele. No entanto o postal deve estender-se aos média, aos programadores e aos ouvintes por último. Parece que existem forças apostadas em ignorar o que se passa nas margens pois não é interessante nem popular e nas margens ignora-se o que se faz nas outras margens pois não há interesse em divulgar o que não se entende e por isso não se gosta. Dois mundos por agora de costas voltadas. Os discos farão com que um dia voltem a ficar frente a frente.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Auspicioso

Do significado da palavra auspicioso chego ao conhecimento de que esta significa sorte, bom agouro e esperançoso. Ontem foi assim. Uma noite registada em som, em vídeo e em imagens para um dia mais tarde recordar, tanto a emoção como todas as falhas, o verdadeiro e sincero sentimento de quem apenas quer existir. Ontem podia ter sido melhor e mais certo, mas não é aí que está o ganho ou o proveito. As palavras podem ser desastrosas e por isso repito a palavra novamente: auspicioso. A esperança numa vida a partilhar e num futuro a dois grandioso e mítico. A noite da criação de conteúdos foi feita de lágrimas, de romance e existiu e existirá.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Clássico do Hip Hop #12

O regresso ao blogue de uma forma mais activa faz-se com a rubrica dos clássicos do Hip Hop e com o mítico Wu-Tang Clan e a faixa "C.R.E.A.M.". Produzida por RZA com base numa amostra dos The Charmels e transformada em ouro pelo clã. O verso principal é dito por Method Man e o tema inclui participações de Raekwon e Inspectah Deck. Esta entrada é dedicada a todos os que consideram Wu-Tang Clan uma das bandas mais importantes da história da música popular. E o que dizer mais sobre uma das melhores canções de sempre e de um dos melhores discos de sempre. Intocável e inesquecível. Infalível e eterno. Para futura memória.

Artista: Wu-Tang Clan
Faixa: C.R.E.A.M.
Álbum: Enter the Wu-Tang (36 Chambers)
Ano: 1993
Verso: Cash rules everything around me, C.R.E.A.M.
Get the money; dollar, dollar bill, y'all


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