quarta-feira, 30 de maio de 2012

Pandora

As nuvens a verterem por cima das montanhas de Creta. Os raios de sol de um fim de tarde no barco e tu de óculos escuros. Estávamos exaustos e enxutos. Hoje, já a caminho de casa, o mistério de uma viola eléctrica e de uma melodia estranha que se entranha, uma canção que fala de Pandora. A primeira de todas as mulheres, segundo a mitologia grega. Imagem enigmática que invade o meu pensamento. Uma mulher de traços ténues, mas fortes, de pele clara e cabelos escuros longos, a cantar melodias enquanto a palheta encontra as cordas da viola. Chego a casa como sempre, com o volume das colunas alto. O meu interior sorri e as portas da garagem abrem.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Resumo da Semana

O acompanhamento da volta a Itália em bicicleta e da etapa rainha com a subida do Mortirolo e do Stelvio no fim-de-semana. A primeira por entre as árvores e os caminhos estreitos, a segunda por entre as estradas de curvas e contracurvas com neve no alto. O concerto a meio da semana no Bairro Alto, com a voz feminina abafada por detrás de um som branco de frequências baixas e médias. A festa, com a oferta da compilação, para corpos que aguentam como podem a repetição constante das batidas rápidas e sincopadas dos temas que vão passando. A tranquilidade de uma semana em tudo normal e no entanto cheia de novidade e de renovação.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Aguaceiro

A chuva que cai em forma de aguaceiros, uma grande quantidade de água que cai num curto espaço de tempo, e alaga as auto-estradas que percorremos quando estamos de volta à nossa cidade, à nossa casa. Depois o sol na cidade, que entra pela janela da sala virada a sudoeste, enquanto partilhamos momentos com os amigos de infância, recordando as fotografias de um tempo de inocência, em que se dançava à porta do Jardim Zoológico, esticando a ponta do pé e da mão em sentidos opostos, como uma bailarina. A inocência é um aguaceiro, acontece de forma súbita e dura tão pouco, e alaga a nossa memória para sempre.

sábado, 19 de maio de 2012

Primeiro

um poema sem estrutura
começa sempre sem um ritmo
sem uma forma ou um compasso
esquadro, leme ou astrolábio.
depois começam a surgir
frases com cada vez maior sentido
um fio condutor para ser lido
e as ideias a fluir e a competir.
o amor, sentimento milenar
que vou deixando alimentar
e a moldar se termina e até se apaga
uma primeira frase, p'ra então continuar
com a simplificação da expressão
recolhe por isso esta canção

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Do Texto

Podem parecer apenas palavras depois de outras palavras. Também são. É também uma forma de expressão. Estar aqui sentado a ouvir música ambiente para aeroportos e começar a colocar as palavras sobre esta caixa branca. Assim tudo se inicia, assim também irá terminar. É originado pela aptidão para receber as impressões e também serve para demonstrar aquilo que sentimos. Poderíamos apenas sorrir e expressar por gestos e olhares os nossos sentimentos, mas nem sempre estamos acompanhados, nem sempre queremos demonstrar as sensações que temos. Por vezes surgem estas palavras que agora usei para expressar um pensamento ou então um sentimento. Assim nasce mais um pequeno texto.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Amadurecimento

Maio maduro Maio. Furtam-se as palavras do mestre, para dizer que este é o mês em que tudo amadurece. O olhar torna-se mais circunspecto, e a prudência adquire um significado ainda maior. As canções que surgem nos discos que são disponibilizados no tempo que passa estão em perfeita sintonia com esta ideia. Desde a luxuosa e grandiosa produção sonora do novo disco de Beach House, até à suavidade e delicadeza do último disco da carreira dos Roxy Music. Um planeta que se move e roda, os minutos a passar e um pensamento a desenvolver-se, até chegar ao ponto de resolução. E as canções acompanham o processo.

Salvador Dalí









A Persistência da Memória
Salvador Dalí (1931)
Óleo sobre tela
24 cm × 33 cm
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, E.U.A.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Azul Tristeza

A alegria é um arco-íris e a tristeza é azul. Significa pois que a alegria contém um pouco de tristeza, e muito mais. Também significa que o tempo da alegria é muito mais etéreo, escasso. Já o tempo da tristeza é mais profundo e mais espesso. Formado por várias camadas, que se vão formando ao longo da passagem desse próprio tempo e da sua duração. Ninguém está triste num momento, nem alegre noutro. Há sempre uma mistura de cores, que nasce da luz ou das rochas. A tristeza é portanto azul. E como a rocha que origina a cor, a sua componente principal pertence à classe dos minerais, dos silicatos, conhecidos pela forma tetraédrica dos seus cristais.

sábado, 12 de maio de 2012

Do Cansaço

A temperatura máxima prevista e sentida foi a idade que perfiz. Como não deixar de pensar que o próprio estado do tempo influencia tudo o que somos. O ambiente abafado do exterior que dificulta a respiração. É difícil respirar, o ar não entra bem nos pulmões. Parece que os alvéolos não absorvem tão bem o oxigénio. Tentamos correr como dantes, e não conseguimos mais. Chegamos cansados a casa, de mais um dia que absorveu a soma total das nossas energias. Está tudo cada vez mais denso, tudo cada vez mais pesado. O corpo pesa mais do que o seu próprio peso e continua tudo no seu lugar certo.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Dia Particular

Dedilhados de guitarras eléctricas, cor, calor e um dia com muito sol. Sorriso interior preparado para todos os encontros e todas as conversas, preparado também o sorriso exterior para acolher os olhares brilhantes que se cruzarão comigo ao longo das próximas horas. A melhor das melhores indumentárias escolhida, raios de luz a disparar directamente do meu coração. O que é que este dia reserva para mim? Como direi: dia espelho da minha alma, de golfinhos alados que saltam na minha clepsydra. Algo assim, intimamente real e totalmente surreal. Todos os dias são para aproveitar, ainda mais este em particular.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Purificação da Água

A chuva que caía naquele dia de celebração, sintoma da purificação pela água. A água, elemento-chave para a ablução. O dia alegre, cheio de sol e cheio de luz de há um ano, substituído pelo nevoeiro denso e pelos pingos, e a penumbra cinza de um dia invernal. Dentro do dia que passou e que assinalou o primeiro ano, fizémos da escuridão claridade, da chuva água purificadora, do Inverno Primavera. Renovação dos votos, das sete rosas rosas entregues no centro comercial e do chá em Alvalade e do jantar em Alcântara fizémos a confissão de um enorme e profundo amor.

sábado, 5 de maio de 2012

Super-Lua

Hoje, se olharmos para o astro que está mais próximo do nosso planeta, a Lua irá parecer que está maior e mais brilhante. Acontecimento astrológico que se designa por Super-Lua. O perigeu da Lua está perto, o ponto da sua órbita em que fica à menor distância da Terra. Este será o ponto ou grau mais baixo. Tudo irá parecer mais intenso, forte, com uma grande influência sobre as marés. Sobre as águas que tornam no nosso planeta azul. O banho lunar aqui tão próximo, à distância de um olhar e de uma consciência. Alguma influência os astros terão na forma como a nossa própria maré enche e vaza.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Da Existência

Há muito tempo atrás escrevi de forma muito incipiente sobre o fenómeno da pópe hipnagógica. Através do destaque de um artigo jornalístico. O tempo foi passando, as bandas foram aparecendo e nasceram outras etiquetas para cunhar o género sonoro. Isso importa pouco, por agora. Importa celebrar a existência de novas formas e novas ideias para chegar a uma canção. Celebrar também a morte dos géneros musicais, e dos artigos de jornais que os criaram. A morte é existência, já o devíamos saber. Por isso, e porque quero, deixo aqui um vídeo que é um clássico do género. Celebrando a existência desta canção.