domingo, 31 de julho de 2016

Próximos Dias

Se formos a ver bem há quase sempre um ano que acaba e outro que recomeça quando vamos de férias. As férias são sempre um tempo de paragem, principalmente quando começa a existir uma rotina de férias. Há também uma rotina para as férias, pelo menos para quem a procura. Ano após ano, como noutros anteriores, fazemos as malas e rumamos para o mesmo destino de sempre. O mesmo é dizer que o sítio é o mesmo, as pessoas que nos acompanham são as mesmas, os cheiros e as gentes também, a areia e o mar também, o sol e a temperatura do ar, tudo o que nos faz recordar o que já passou. Serão assim também os próximos dias. Descanso de um ano com mais trabalho, em que o tempo voltou a passar rápido. É assim que vivemos e assim que envelhecemos, numa viagem para o sul, segunda terra do meu coração.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Ao Contrário

Quando vamos ao contrário percebe-se melhor o caminho que fazemos quando vamos a favor. Caminhava a subir a escadaria do metropolitano perto do meu trabalho e fazia o caminho contrário ao habitual e reparei nas diferenças, na diferente perspectiva do espaço, da arquitectura, e cheguei ao meu destino habitual. Ao mudar a rotina, a forma como me desloco de um sítio para o outro, vejo a direcção que costumo fazer de uma outra maneira. Como se agora, como benefício, tivesse também a experiência das pessoas que vejo quando vou a favor, quando vou a caminhar da forma rotineira. Quando mudamos o sentido, a direcção, podemos estar apenas a afinar o rumo. Como se o contrário passasse a estar a favor, como antes o que era a favor passasse a ser contrário.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Quatro Anos

É curioso ler este texto passados quatro anos. É curioso porque com o tempo comecei a escrever um pouco mais sobre futebol, mas ainda assim é raro fazê-lo. Outra coisa curiosa é pensar que o texto escrito há quatro anos é muitíssimo actual, é só mudar o jogo para a final. O texto é premonitório e encerra uma crença. A crença que já existia naquele campeonato europeu de há quatro anos. Agora que somos campeões europeus é mais fácil dizer que tivemos razão antes do tempo e que o nosso país é eufórico-depressivo, sempre a duvidar das nossas qualidades enquanto povo, enquanto nação. A equipa da crença ganhou o torneio, tornou-se forte quando era fraca, soube ser paciente e estratégica depois de sofrer e defender o ataque das outras equipas. O remate do golo final é consequência do cabeceamento do primeiro golo do jogo anterior e do contra-ataque do golo do primeiro jogo a eliminar. Mas atenção que a crença e a esperança não são fáceis de praticar, dão muito trabalho.

sábado, 9 de julho de 2016

Reluzente

As pedras da calçada reluzem e brilham com a luz rarefeita deste sol de Verão. Caminho em direcção a mais um destino do meu dia. Vou contra o sol, contra o calor e o vento sopra, dando aquela falsa sensação de frescura. Mas a imagem que ressalta é mesmo a cor da luz do sol nas pedras brancas, efeito das lentes dos meus óculos escuros. Subo a rua que subia há muitos anos antes até à zona da casa da minha avó, onde vive a minha mãe e uma das minhas tias. Encontro a minha irmã que apareceu de surpresa para dar os parabéns ao afilhado, um dos meus primos. A família e o efeito da luz. A cor lilás reflectida e os anos que passaram entre os meus passos e os passos dos outros. Há também nesta luz reluzente aquela resposta que procuramos acerca da passagem do tempo e do que se mantém na nossa memória.