As Variações
Além de variar a forma de cantar, António Variações variou também algumas palavras de letras de canções que cantou, para adequar a letra à sua forma de cantar. Genial, portanto. O melhor exemplo desta característica está na canção "Canção", escrita por Fernando Pessoa. Talvez o mais arrojado trabalho de musicar e cantar esta letra, que consegue pôr a chorar as flores do jardim e as pedras da calçada. A letra da "Canção" fica aqui, e em negrito assinalo as variações e entre parêntesis as supressões.
Silfos ou gnomos tocam?...
Roçam nos pinheirais
Sombras e bafos leves
De ritmos musicais.
Ondulam como em voltas
De estradas não sei onde
Ou como alguém que entre árvores
Ora se mostra ora se esconde.
Forma distante (e) incerta
Do que eu nunca terei...
Mal oiço, e quase choro.
E por que é que eu choro não sei.
Tão suave melodia
Que mal sei se ela existe
Ou se é só o crepúsculo,
Os pinhais e eu estar triste.
Mas pára, como uma brisa
Esquece a forma aos seus ais;
(E) agora não há mais música
Do que a dos pinheirais.
Silfos ou gnomos tocam?...
Roçam nos pinheirais
Sombras e bafos leves
De ritmos musicais.
Ondulam como em voltas
De estradas não sei onde
Ou como alguém que entre árvores
Ora se mostra ora se esconde.
Forma distante (e) incerta
Do que eu nunca terei...
Mal oiço, e quase choro.
E por que é que eu choro não sei.
Tão suave melodia
Que mal sei se ela existe
Ou se é só o crepúsculo,
Os pinhais e eu estar triste.
Mas pára, como uma brisa
Esquece a forma aos seus ais;
(E) agora não há mais música
Do que a dos pinheirais.
1 Comentários:
Essa canção arrasa comigo. Se a Sophia tivesse alma de fadista e não aquele jeito apolíneo de ser, poderia ter escrito isto, mas a sua apreensão dos pinheirais era clara, claríssima. O Pessoa e o Variações, corporizando a saudade e a tristeza deste país nesses pinheiros, conseguem ser ainda maiores.
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