sexta-feira, 20 de março de 2009

O Mestre



José Afonso é o Mestre. Redescobrir Zeca Afonso é inacreditável. Primeiro porque não há uma lacuna, uma falha que seja, uma nota ao lado, uma palavra a mais. Segundo, existe esta alma portuguesa que transborda por todo o lado em qualquer canção do Mestre. É povo, é intervenção, é campo, é mar, é carreiro, é crítica, é Primavera, é Outono, é África, é Brasil. José Afonso é o Mestre. Estou a aprender e a crescer com o Mestre.

Venham mais cinco
Duma assentada que eu pago já
Do branco ou tinto
Se o velho estica eu fico por cá
Se tem má pinta
Dá-lhe um apito e põe-no a andar
De espada à cinta
Já crê que é rei daquém e dalém mar

Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d'embalar a trouxa e zarpar

A gente ajuda
Havemos de ser mais eu bem sei
Mas há quem queira
Deitar abaixo o que eu levantei
A bucha é dura
Mais dura é a razão que a sustem
Só nesta rusga
Não há lugar pr'ós filhos da mãe

Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d'embalar a trouxa e zarpar

Bem me diziam
Bem me avisavam como era a lei
Na minha terra
Quem trepa no coqueiro é o rei

3 Comentários:

Blogger A disse...

A Mulher da Erva

Velha da terra morena
Pensa que e já lua cheia
Vela que a onda condena
Feita em pedaços na areia
Saia rota
Subindo a estrada
Inda a noite
Rompendo vem
A mulher
Pega na braçada
De erva fresca
Supremo bem
Canta a rola
Numa ramada
Pela estrada
Vai a mulher
Meu senhor
Nesta caminhada
Nem m'alembra
Do amanhecer
Há quem viva
Sem dar por nada
Há quem morra
Sem tal saber
Velha ardida
Velha queimada
Vende a fruta
Se queres comer

A noitinha
A mulher alcança
Quem lhe compra
Do seu manjar
Para dar
A cabrinha mansa
Erva fresca
Da cor do mar
Na calçada
Uma mancha negra
Cobriu tudo
E ali ficou
Anda, velha
Da saia preta
Flor que ao vento
No chao tombou
No Inverno
Terás fartura
Da erva fora
Supremo bem
Canta rola
Tua amargura
Manha moça
.. nunca mais vem

uma do Mestre que eu gosto muito

20 de março de 2009 às 17:45  
Blogger Calor Humano disse...

Grandioso.

21 de março de 2009 às 04:33  
Anonymous Anónimo disse...

"Mestre", é isso mesmo, é um dos mestres. Há uma canção dele que me arrasa - O Avô Cavernoso. O seu lirismo parece escapar à sua luta, mas o final da canção prova-a como mais uma batalha na sua luta:

«O avô cavernoso
Instituiu a chuva
Ratificou a demora
Persignou-se
Ninguém o chora agora
Perfumou-se
Vinte mil léguas de virgens vieram
Inutéis e despidas
Flores de malva
E a boina bem segura
Sobre a calva

Ao avô cavernoso quem viu a tonsura?
E a tenda dos milagres e a privada?
Na tenda que foi nítida conjura
As flores de malva murcham devagar
Devagar
Até que se ouvem gritos, matinadas»

Os Mão Morta têm uma versão. Mas há uma brasileira de quem gosto muito, a Luanda Cosetti, filha do grande Alípio Freitas, que canta isto como deve ser, lusofonicamente:

http://www.youtube.com/watch?v=IGAIJRw1SD4

Beijinhos, Pedro.

21 de março de 2009 às 17:48  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial