terça-feira, 8 de julho de 2014

Dia Quatro do Primavera

O nosso quarto dia do festival começou com um almoço no bairro de Sants. Depois do almoço regressámos ao Parque da Cidadela para assistir ao último concerto da tarde, The Twilight Sad. Quando chegámos o concerto já tinha começado. Apresentado num formato mais acústico, existiu um espírito de comunhão grande entre a banda e o público, e muita emoção por parte do vocalista escocês. Mas não foi um concerto memorável. Depois dirigi-me para o recinto do festival de autocarro. Quando cheguei ainda apanhei o final do concerto de Univers, uma banda de Barcelona. O dia começou verdadeiramente com o concerto de Islands. Uma boa pópe feita de guitarras de acordes fáceis, voz e arranjos a condizer. Saí dali com um bom sorriso. De seguida, e já novamente acompanhado, regressei aos palcos principais para mais um dos momentos aguardados do festival, concerto álbum dos Television. O concerto não superou a expectativa que era alta. A falta de rodagem em palco notou-se nalguma falta de garra. No entanto a mestria técnica continua toda lá. A banda regressou a um disco que descobri na altura em que comecei a ouvir todos os discos clássicos da história do róque. Foi bom e inesperado ouvir o Marquee Moon ao vivo. Nesta altura a minha mulher assistia às Dum Dum Girls. Pelo meio ouvi duas canções do Caetano Veloso ao som de um brinde aos aniversários e à nossa vida. Reencontrámo-nos para o primeiro concerto de Hip-Hop do dia, Earl Sweatshirt. O concerto começou com a apresentação de algumas malhas por parte do DJ e passados dez minutos surgiu o MC. Gostámos muito do concerto, pela presença do Earl Sweatshirt, apenas acompanhado pelo DJ, que fazia as segundas vozes nas estrofes mais fortes. Batidas sujas e inventivas, uma fluência irrepreensível, praticamente tudo o que se espera de um rapper na flor da idade e já é grande. Segui para o palco ao lado onde começava o concerto de Connan Mockasin. O artista surge mascarado de velhinha em palco, com uma banda a tocar o róque suave das suas canções. A estética das canções não é fácil para um concerto de festival e aquilo que em disco soa muito bem, soou ainda mais sossegado em palco. Não foi fácil por isso estar ligado ao concerto no meio de um público que ia dispersando à medida que as canções iam sendo apresentadas. Acabámos por descansar um pouco nas escadas e passados alguns minutos começamos a caminhada até ao palco do lado oposto onde ia começar Kendrick Lamar. É incrível ver um concerto de Kendrick no meio de milhares de pessoas que sabem literalmente todas as rimas de cor. Foi um concerto curto mas muitíssimo eficaz, com uma banda óptima a tocar ao vivo a maior parte dos instrumentais, baseado nos êxitos do disco good kid, m.A.A.d city. Um concerto intenso com momentos épicos e de comunhão. Com a plateia na mão o concerto acabou, devia ter continuado para sempre. Já posso acrescentar mais um concerto de Hip-Hop ao meu quinhão, que é demasiado curto também. Houve apesar de tudo uma vantagem na duração do concerto, deu a possibilidade de chegar ao concerto de Cloud Nothings e apanhar metade do concerto. Os nossos corpos abanaram ao som daquela descarga eléctrica de canções tão boas e tão desesperadas. O nosso coração foi um só e meio concerto de Cloud Nothings valeu por um concerto inteiro. Ainda cheguei ao mosh pit e segurei gente que voava sobre mim. No fim o desvario de barulho que durou dez minutos e mais um sorriso grande no fim de um concerto. Se o festival tivesse terminado assim seria maravilhoso. Mas ainda faltavam algumas horas para o fim. Foi nesta altura que passei a ver meios concertos até ao último concerto do dia do festival naquele recinto. Blood Orange, que parecia estar bom mas foi um concerto que passei ao lado por falta de discernimento e concentração, vi muitas raparigas a dançar. Mogwai, concerto perfeito para me deitar no relvado e observar as estrelas e as luzes do concerto de NIN ao longe. Ty Segall, já não havia energia e vontade para furar aquele compacto de gente que que vibrava ao som da rapidez do ritmo da bateria imparável e da eficácia dos acordes daquelas guitarras. Foals, concerto de refrãos para trautear, de canções em que se marcava o ritmo com a batida do pé e muita gente a dançar os temas radiofónicos da banda. Foi assim que se passou o tempo até ao último concerto do dia, que pertenceu aos Cut Copy. Um fim de festa próximo da perfeição. Depois de descansar nos concertos anteriores, recarreguei as baterias para dançar as canções da banda australiana. Dos temas mais antigos aos mais recentes. Libertar a mente, pensar no presente e aproveitar aquele momento que fica parado naquele instante. Não escolheria outra forma de terminar os dias principais do festival. Uma discoteca a céu aberto e uma plateia inteira a dançar.

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