sexta-feira, 28 de março de 2014

Nuvens

Durante o dia que passou observei o céu e vi muitas nuvens de vários tamanhos, cores e formas. Esteve um dia quase perfeito para observadores de nuvens como eu. De manhã, enquanto me dirigia para o metro que acabou por não passar, olhei ao fundo as nuvens espessas e negras que estavam sobre a cidade mais a sul. No autocarro que apanhei por não haver metro voltei a observar as camadas de nuvens que já sobrevoavam por cima de mim em vários tons de cinzento e começou a chuviscar. Já de tarde o céu começou a ficar mais limpo, mas surgiam ainda nuvens ao longe, mais a norte agora, que subiam vertiginosamente até ao topo do meu campo de visão. Acabei por fotografar algumas com o meu telemóvel e fiquei a pensar nas nuvens que observei até agora. As nuvens não são mais que passageiras no céu, que nos lembram a nossa própria passagem e sobrevoamento pelo céu que vamos construíndo.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Luz Fugidia

Ao Domingo tenho visitado os meus avós que vivem no Estoril e da última vez que os visitei fui de comboio. O caminho de comboio é feito primeiro à beira rio e depois à beira mar, com algumas incursões no interior do território litoral que une as terras que foram surgindo ao longo da costa. Deverá ser um dos mais belos percursos ferroviários da nossa terra, que permanentemente nos obriga a voltar o olhar para a imensidão da água que nos acompanha do início ao fim da viagem. Quando voltava à cidade, no fim de mais uma visita, comecei a reparar no entanto no lado contrário ao mar. A luz do sol, que estava próximo do seu ocaso, começou a entrar pela janela ao lado do banco onde vinha sentado. Sentei-me de costas para a marcha do comboio. Ao olhar para a luz do sol, sempre em fuga e a descer, reparei que do lado oposto à imensidão do oceano surgia esta luz fugidia e eu a beber dela. A água estava ali, na luz que fugia do meu olhar.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Natureza

Natureza que renasce
Água que dos rios baixa
Ai o verde nos envolve
Correm gamos pelo bosque

É assim a Natureza

Árvores que no céu tocam
É da luz que tudo brota
Nascem já as folhas novas
Borboletas asas batem

É assim a Natureza

Pétalas formam as flores
e as abelhas pelo pólen
Fecundam a nossa terra
Amanhã que se repete

É assim a Natureza

segunda-feira, 17 de março de 2014

Dom da Vida

O dom da vida pode ser celebrado numa ida ao supermercado com o meu avô, num piquenique de Primavera no jardim, na visita ao hospital para visitar o filho recém nascido dos meus amigos, no jantar de família com o meu pai, irmãs e enteados. Há muita vida nos episódios que fui vivendo, causa boa impressão ver a vida a acontecer. Desde o início da minha vida tive a sorte de ter gente próxima de mim, que soube cuidar de mim e permitiu o meu crescimento. Há no dom da vida o dom da retribuição, de tentar passar aos outros tudo aquilo que fomos recebendo de outros que cuidaram de nós até este momento. Sem a retribuição e o agradecimento o dom da vida não pode ser celebrado inteiramente. Ser inteiro é retribuir e agradecer.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Ausência

Neste início de mês de Março, em que o sol primaveril começou a surgir com consistência, há uma rotina que se foi alterando devido à ausência da minha mulher, em serviço no país vizinho. A hora de adormecer é mais difícil de cumprir e por vezes adormeço no sofá, enquanto dão os resumos dos jogos de futebol da Liga dos Campeões. Já de madrugada acordo e fico acordado até voltar a adormecer já perto da hora em que tenho de começar a preparar-me para sair de casa para um novo dia de trabalho. Há nesta falta de rotina uma dificuldade de me deitar tão cedo como já é costume. Como consequência de uma ausência momentânea da presença de alguém que moldou a hora em que me vou deitar.

sábado, 8 de março de 2014

Poeira Solar

O que me atingiu a memória foi a poeira solar que apareceu no início das manhãs. O sol de Inverno, que andava sumido desde há muito tempo, coberto pelas camadas de nuvens que atingiram a nossa península vindas de oeste, resolveu aparecer. Este sol mais oblíquo produz a tal luz lisboeta que fere o olhar. Mas não foi essa luz que me impressionou, apenas a poeira que essa luz provoca, como se existisse um sentido na matéria que é uma neblina suave que só se vê quando concentramos o nosso olhar no infinito. Esta poeira trouxe-me até às cinzas, o que fica depois da combustão, o Inverno rigoroso e atlântico dá origem através deste processo à poeira solar que atingiu o meu olhar.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Barcelona

Parte de mim está em Barcelona neste preciso momento. Pelos vistos até o sol de Lisboa está aí, pelo que consegui ver na fotografia que partilhaste com a rede. Aqui em Marvila os comboios continuam a passar à mesma hora de sempre e os autocarros ainda param aqui no início da rua. Claro que está tudo igual. Hoje comecei um novo horário e as canções da Angel Olsen soam cada vez melhor. Ontem fomos levar-te ao aeroporto, os teus pais e eu, as pessoas mais próximas. Depois de partires almoçámos juntos e eu ajudei os teus pais com as novas tecnologias. Na Primavera vou a Barcelona contigo, apesar de neste momento estar precisamente aí a dormir.