sábado, 30 de maio de 2009

Perdido

Perdido em Barcelona, Nathan Williams e os Wavves faltaram à chamada na Zé dos Bois. A causa da súbita falta de orientação foi o derretimento no Primavera, festival a que fui o ano passado e há dois anos. Revela, no mínimo, uma falta de responsabilidade e uma atitude à estrela da baixa fidelidade. Há um ano perdido no quarto, hoje perdido em Barcelona. Quem safou a noite foi o John Maus e as suas produções pope ultra-minimalistó-melódicas, num karaoke autista que invadiu a galeria. E eu perdido fiquei pelo sequenciador e as suas possibilidades.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sobre a humildade

"Isto somos nós, isto é Portugal e é só pope". Esta frase e esta entrevista são verdades inatacáveis. Um discurso sincero, sem demagogias, de uma banda que apenas ambiciona existir. Existir para dar aos outros, todos nós portanto, canções que já são nossas. A humildade é a chave desta entrevista. Não há aqui nenhuma auto-proclamação. Não existem revoluções anunciadas. Apenas uma tomada de posição e objectivos claros. Uma banda ambiciosa, com vontade de ser grande, que apresenta canções de baile para deixar Portugal a dançar. Um desejo, diria, bastante humilde.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Eles vêm aí

Quando escrevi que estava noutra, ali algures em baixo, queria dizer que estava mais centrado no que ando a preparar. Vem aí o quarto disco com o selo da Amor Fúria. Irá chamar-se Eles São os Smix Smox Smux. O nome da banda está no nome do disco, como há mais de trinta anos com o primeiro dos Sex Pistols. E o panque está de volta perfumado de grunge. De volta a Seattle via Braga. Uma mistura de acidez dos pedais da guitarra, fanque da secção rítmica e humor refinado bracarense. Para ouvir, dançar e cantar em Junho, aos dezanove, no Santiago Alquimista. O disco vai estabelecer uma ponte entre duas décadas. Será o álbum que os anos noventa cobiçaram.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Motivação

A motivação para criar vem sempre do desejo. Desejo de fazer algo nosso. Começo a entender que a primeira motivação para pensar em criar alguma coisa é esta. Algo que possa ter orgulho em dizer: isto é meu. Num colectivo ou numa banda também existe esse motivo, mas se não existir um líder ou um grande espírito de comunhão e cedência é impossível chegar ao fim. A arte em última análise vem do ego. Do ego filosófico, do Eu. No entanto, a partir do momento em que está criada, a obra, seja uma canção, um filme ou um livro, passa a ser de todos. Mas a primeira motivação é esta: eu criei isto. Uma poderosa e única sensação.

sábado, 23 de maio de 2009

Acústicos

É muito interessante escutar os novos espaços de dois dos criadores das canções d'Os Pontos Negros. Filipe Sousa e Jónatas Pires desdobraram-se e criaram dois espaços independentes e plenos de força. Força da criação musical e força da criação de canções. Canções que foram gravadas na forma acústica. Filipe Sousa segue de perto o mestre Samuel Úria e as monções estão a chegar para arrasar corações. Jónatas Pires é mais Manuel Fúria e é impressionante a semelhança na construção da canção que se pode escutar por aquele espaço. É prematuro anunciar um artista como o mais interessante de uma constelação que além destes quatro nomes congrega outros escritores e artesãos de canções desta geração dos anos zero. Sem ironia, sou a favor da existência de B Fachada e serenamente saciado aguardo o próximo disco d'Os Pontos Negros.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Eduardo Viana



K4 Quadrado Azul
Eduardo Viana (1916)
Óleo sobre tela
45 × 56 cm
CAMJAP - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Praia ou Piscina #2

Não gosto que me confundam. Por isso esclareço: não existe nenhuma estratégia por trás das coisas que escrevo. Aquilo que eu escrevo reflecte uma visão individual e particular e nunca uma ideia colectiva e geral. Sou a favor da existência da FlorCaveira e nada me move contra ela. No passado ajudei, com as minhas capacidades, faculdades e engenho, a chegar às pessoas certas a música que me marcou naquele momento e naquele tempo. Agora estou noutra, é verdade. Repito, sou a favor da FlorCaveira. Posso é não apreciar na mesma medida todos os discos editados na editora. Não se preocupem, sempre me dei melhor com a discrição. E por vezes penso que escrevo só para uma pessoa. Na piscina.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Experiência Ambiental



Atenção. O Techno ambiental está de volta e em força. Para além do novo disco do Axel Willner (The Field) também já está por aí o novo de Jesse Somfay, que está na fotografia que acompanha esta entrada e eu desconhecia. O novo álbum de Jesse Somfay é uma obra-prima em potência. A Catch In The Voice é um álbum de dois discos. O primeiro forma o ambiente para escutar a batida do segundo. A norma do momento parece ser a experiência sonora. Acreditem que esta é incomparável. Mas cuidado, a história do Techno ambiental já é antiga e só agora é que começa a ser descoberta. Jesse Somfay e The Field são dois nomes que bebem da obscuridade de uma certa cena electrónica cerebral do fim da década passada e boa parte desta. A descobrir em breve.

sábado, 16 de maio de 2009

Crítica ou "Corte"

Quando leio uma crítica analiso muito mais a forma de pensar do crítico do que a obra que ele critica, normalmente já conhecendo a obra anteriormente. A crítica não é mais que a revelação de uma opinião pessoal e revela também o próprio gosto. As notas a discos ou a filmes são falácias. No entanto revelam rapidamente, numa escala estabelecida, o "valor" de uma obra criada na avaliação dessa pessoa. Por isso mesmo o "corte" a discos é uma tarefa que necessita de algum estilo. Não deve ser estratégica nem reflectir uma opinião colectiva. Muito mais fácil será o elogio e muito mais bem visto. Um dos últimos "cortes" a discos com mais estilo que li está aqui.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Praia ou Piscina

Fachada, Fachada, estás aqui estás na estrada. Podia ser uma boca que eu daqui enviava ao Bernardo. Até porque "Viola Braguesa" é um bom disco, com camadas e camadas de sons, e boas canções. Sempre num universo muito próprio, Fachada distingue-se de outros autores que cantam as próprias canções pela colocação de voz e algumas manias vocais que tanto podem ser geniais como falhar completamente. Tudo depende se apetece entrar ali, naquele mundo tão único de seres imaginados e normalmente casados ou juntos. É como ir à praia, pode apetecer ir se está sol. Ou então fica-se na piscina. É que, tirando duas ou três canções, este fim-de-semana dourado num pónei não é a minha praia.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Proto-Roque

A principal razão para se comparar o produto sonoro da maior parte das bandas que nasceu neste tempo no pope roque português com a banda The Strokes é a falta de conhecimento da cultura pope. Antes dos Strokes existiram os Television e antes deles The Velvet Underground. A outra razão para comparar toda esta nova vaga aos Strokes só se explica pela proximidade temporal. Por outro lado, as referências mandadas à parede têm o terrível defeito de fazer esquecer que tudo isto está muito mais próximo da fase Corpo Diplomático do Roque português. A existir algum revivalismo deve apontar-se essa fase do Proto-Roque português e os anos seguintes e não a do revivalismo internacional do Rock.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A vida é curta demais

Depois de muito matutar e de escrever pela noite dentro em fóruns dedicados inicialmente aos sons e hoje um micro mundo onde se "fala" basicamente de tudo e depois de ler também a opinião do meu amigo Tiago sobre o concerto de apresentação de "Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco" e sobretudo lendo duas páginas centrais do suplemento cultural ípsilon sobre Os Golpes aprendi e cresci. Aprendi que tenho orgulho naquilo que faço. Aprendi que não é a parte sociológica que me faz correr na música pope. Aprendi sobretudo que é preciso aceitar os outros, aceitar o que é cada pessoa, aceitar o que se escreve. Sempre. A vida é curta demais.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Disco Disco Disco #2

Os Chic são porventura a banda mais importante do período Disco. Serão também uma das bandas mais surripiadas dos tempos modernos. Acima dos Chic estará o James Brown e os Kraftwerk e mais alguns, claro. O tempo funciona sempre como factor de selecção das bandas e das canções que realmente interessam. E os Chic são uma das bandas que o tempo seleccionou. Qual é o DJ que não tem um disco de vinil dos Chic na sua mala? Fiquem com "Everybody Dance", do primeiro álbum dos Chic, cuja capa está nesta hiperligação.



Artista: Chic
Faixa: Everybody Dance
Produtores: Bernard Edwards & Nile Rodgers
Ano: 1978
Facto: "Everybody Dance" é das canções menos sampleadas dos Chic.

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terça-feira, 5 de maio de 2009

Cacofonia dançável

Existem coisas refrescantes para serem ouvidas agora vindas de fora. Dos Animal Collective já falei e não há muito mais a acrescentar. Do Omar-S também. De Wavves e de Micachu ainda não. Estados Unidos e Inglaterra, um rapaz e uma rapariga. Os dois criam sozinhos e à margem. Nathan Williams (Wavves) grava tudo e empacota em baixa fidelidade. Micachu grava com a banda, The Shapes, e deixa o Herbert produzir. Dois discos cacofónicos, um mais estridente e ruidoso, o de Wavves, e outro mais rítmico e experimental, o de Micachu. Dois discos estranhamente dançáveis e importantes agora. A cacofonia dançável é uma das leis internacionais mais fortes do ano.

sábado, 2 de maio de 2009

1º de Maio

Foi grande. Agradecer a presença de todos e pedir compreensão a quem não entrou. No fim, tal como eu tinha previsto um mês antes, o Santiago Alquimista foi mesmo pequeno demais. O texto que escrevi há um mês, que acabou por não ser o escolhido para promover a noite, resume bem o espírito vivido ontem no Santiago Alquimista. Acabei por ser o anfitrião omnipresente, atarefado com o trabalho de bastidores. Só tinha retirado o poço-moche em frente ao palco e colocado uma pista de baile. De resto, tudo muito grande. O texto:

A Amor Fúria apresenta o primeiro disco inteiro. Os Golpes apresentam "Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco”. Iniciam-se as noites “Amor Fúria apresenta no Santiago Alquimista”. No dia 1 de Maio trabalha-se para reconstruir o pope roque português, aquele que canta e se expressa na língua de Sophia de Mello Breyner e Ruy Belo, e claro, de Camões e Pessoa. Os Golpes trabalham para tornar um palco e um local de concertos algo maior, tão grande como a própria vida. Apresentam canções que querem ser nossas, as canções maiores de um disco mítico. Os concertos d'Os Golpes são transporte para um outro tempo e um outro espaço, um tempo feito de grandes bandas (Heróis do Mar, Sétima Legião, GNR) e um espaço português com salas de concertos cheias de história (Rock Rendez-Vous). Assistir a um concerto d'Os Golpes é entrar nos documentários que se fizeram sobre os Joy Division ou os Doors, ou mesmo sobre os Heróis do Mar. Mas está tudo a acontecer agora, aqui em Portugal, aqui em Lisboa, no ano de 2009.

Na primeira parte do concerto estarão duas das bandas que irão corporizar a pope portuguesa do futuro: Os Velhos e Os Capitães da Areia. O anfitrião será o Almirante Ramos, o alternador de discos, que irá lançar a senha que irá espoletar esta dança. Lisboa está convocada, Portugal está convocado. É hoje e o Santiago Alquimista poderá ser pequeno demais.