Novos Talentos

Começa a formar-se o corpo. Esse corpo é formado por novos talentos, novas bandas que surgem a qualquer momento e sem aviso na infinita rede dos computadores. A vontade é muita e o talento é inato. O caminho é o caminho certo, uma pope portuguesa sem medo de ser portuguesa, como são a literatura, o cinema e o teatro. Dito isto, estou a consumir duas bandas que são os protótipos das bandas, algumas ainda embrionárias, que irão corporizar a pope portuguesa do futuro. Os Velhos e a sua "Canção do Pedinte" são a juventude apaixonada pelo sol de Lisboa. o deserto branco e o seu "Relógio Biológico" revela o improvável dia-a-dia de um jovem nas ruas da sua cidade.

Oficial

É oficial. A partir de hoje irei ter nos meus linques oficiais todos os projectos activos com os quais estou directamente envolvido. A Amor Fúria, a companhia de discos do Campo Grande. O Almirante Ramos, o alternador de discos. O Pássaro Azul, a banda em projecto. Socalcos, o Techno do alter ego MAROS. Tudo oficial, tudo claro, tudo real. Se é arte ou pope. Se é pope ou arte. Será a pope arte? Inspirado nas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen:

A obra de arte faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida.

Disco Disco Disco #1

É a inauguração de mais uma rubrica. Já tinha os clássicos do Hip Hop e agora também há clássicos do Disco. Disco que deu origem ao House e ao Techno. Disco que fez nascer a cultura da música de dança e passou a dar protagonismo aos DJs. O primeiro destaque vai para a faixa "More, More, More" de Andrea True Connection, produzida por Gregg Diamond e editada 1976. O ideal seria colocar a remistura do Tom Moulton, mas a versão do vídeo é suficiente e dará início a toda uma discussão em torno da fidelidade da sincronização labial.



Artista: Andrea True Connection
Faixa: More, More, More
Produtor: Gregg Diamond
Ano: 1976
Facto: O grupo canadiano Len utilizou uma amostra de "More, More, More" em 1999 no êxito "Steal My Sunshine".

Vitalidade vs. Respeito

Havendo alguma conclusão a ser retirada do visionamento deste concerto improvável é que a malta da FlorCaveira, via Tiago Guillul, representa bem a vitalidade da actual música portuguesa e tem um grande respeito por Rui Reininho, que actualmente vitalidade já não tem muita. O respeito é bonito e ganha mercado, mas só serve para isso. Basta comparar os vídeos do Guillul e do Reininho na carrinha e já em plena Praça de Espanha entender que a banda FlorCaveira é o mais próximo que Portugal tem dos Arcade Fire e não precisa de mais ninguém. Ninguém. Amanhã há Samuel Úria no Maxime.

Em minúsculas

Os aquaparque, assim em minúsculas, são a coisa mais interessante feita recentemente cantada em português que tenho escutado fora do espaço Queluz-Campo Grande nos últimos meses. Setas e flechas, ideias novas, experimentalismo do bom. Claro que aqui o facto de soar inovador não significa logo à partida que seja bom. Nem o facto de soar a velho significa que é mau. Aqui não há desses equívocos. Mas em É Isso Aí, a mistura de corta e cola mais sequência mais voz e umas linhas melódicas funciona bem, muito bem mesmo algumas vezes. Também aqui se está a experimentar o mesmo método. E além das minúsculas também se vão usar maiúsculas.

O Mestre

José Afonso é o Mestre. Redescobrir Zeca Afonso é inacreditável. Primeiro porque não há uma lacuna, uma falha que seja, uma nota ao lado, uma palavra a mais. Segundo, existe esta alma portuguesa que transborda por todo o lado em qualquer canção do Mestre. É povo, é intervenção, é campo, é mar, é carreiro, é crítica, é Primavera, é Outono, é África, é Brasil. José Afonso é o Mestre. Estou a aprender e a crescer com o Mestre.

Venham mais cinco
Duma assentada que eu pago já
Do branco ou tinto
Se o velho estica eu fico por cá
Se tem má pinta
Dá-lhe um apito e põe-no a andar
De espada à cinta
Já crê que é rei daquém e dalém mar

Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d'embalar a trouxa e zarpar

A gente ajuda
Havemos de ser mais eu bem sei
Mas há quem queira
Deitar abaixo o que eu levantei
A bucha é dura
Mais dura é a razão que a sustem
Só nesta rusga
Não há lugar pr'ós filhos da mãe

Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d'embalar a trouxa e zarpar

Bem me diziam
Bem me avisavam como era a lei
Na minha terra
Quem trepa no coqueiro é o rei

Veckatimest

Tenho andado a escutar o novo álbum da banda Grizzly Bear e se há blogues a afirmar que o que verteu para a rede tem uma qualidade duvidosa então não quero imaginar a versão final, de qualidade premium. Até cheguei a ler que seria um desperdício e um erro enorme escutar esta versão de Veckatimest. Se antes existia a necessidade de ser o primeiro a escutar um álbum ou a descobrir um artista, agora parece que a lógica é ouvir a versão final e não a que anda na rede, porque será muito melhor. Bem, discussões e lógicas à parte, os Grizzly Bear de Veckatimest arrasam toda a concorrência, especificamente os Fleet Foxes, que com o tempo fui aprendendo a gostar. Com os Grizzly Bear há esta probabilidade de ficar boquiaberto à primeira audição de qualquer canção ou álbum. Para comprovar basta seguir esta ligação.

Excitação

Foram dias excitantes os que se viveram neste fim-de-semana. Acordar às cinco e meia para ir filmar, saída do trabalho directo para Alter do Chão e o sol demasiado a brilhar. Branco. No Sábado. Dia a seguir a chegada sem as pizzas, para depois ir buscá-las, e cruzes no chão e na parede. Vermelhas. No Domingo. Excitação verdadeira, lusitanos puros e o quase-cinema a acontecer. A montagem segue dentro de momentos e vai ser dura e árdua. Juntar o paraíso e o roque não vai ser fácil.

Clássico do Hip Hop #3

Hoje recordo LL Cool J. Sim, o LL Cool J da "Doin It", da "Phenomenon" e da "Control Myself" com a Jennifer Lopez. Mas não é nenhum destes temas do LL Cool J que realço nesta entrada. Vou realçar o single de maior sucesso do álbum Mama Said Knock You Out, o quarto de estúdio de LL Cool J, uma espécie de regresso em grande à ribalta, apesar do próprio afirmar que esteve sempre lá desde o começo, depois de um álbum que decepcionou principalmente a comunidade do Hip Hop. Produzido por Marley Marl, um histórico da produção Hip Hop, "Mama Said Knock You Out" foi lançado já no ano a seguir à edição do álbum e é provavelmente a melhor malha para ser escutada por qualquer banda antes de entrar em palco.

Artista: LL Cool J
Faixa: Mama Said Knock You Out
Álbum: Mama Said Knock You Out
Ano: 1990
Verso: Don’t call it a comeback
I’ve been here for years

De Corroios com Amor

Ainda estou a refazer-me do furacão que passou em Corroios ontem à noite. Furacão talvez não tenha sido, mais um comboio a vapor que custou a arrancar, mas quando atingiu a velocidade cruzeiro congregou por inteiro as atenções de todos os presentes. Digo custou a arrancar porque tanto a "O Silêncio" como a "Fogo Posto" foram tocadas a um ritmo mais lento do que o que seria desejável, mas quando chegou o encore, com a "Tarde Livre II" e a "Cruz Vermelha", este revelou tudo o que a banda Os Golpes têm para dar ao nosso país: Roque tradicional, com garra, pose e coração. A primeira banda para encher um estádio desde os GNR ou os Xutos. E não me venham pedir para controlar-me, é impossível não reagir à batida militar d'Os Golpes. Tudo em sentido, a marchar.

Dois passos à frente

O mais importante em qualquer área é estar dois passos à frente. Estar dois passos à frente significa pensar com um avanço de um ano, no mínimo. Hoje já estamos a pensar em 2010 e por aí adiante. Um dos instrumentos de trabalho mais importantes para divulgar o trabalho dos artistas envolvidos com a nossa companhia está quase encomendado e dará a liberdade de acção a nível cinematográfico que já devíamos ter desde sempre. Isto para quê? Num tempo em que qualquer cena é muito mais micro e efémera, os bons conteúdos são a mais-valia para chegar ao público macro no mais curto espaço de tempo e também a garantia da durabilidade. Agora é dar um passo atrás e voltar ao ano corrente, que ainda há discos para editar e promover.

Omar, o Grande

Eu também gosto de gajos assim. Gajos que dizem que a música deles é a única que interessa. Cada dia que passa acho que ele tem cada vez mais razão. O meu objectivo é um dia chegar ao pódio do Omar-S e ter a mesma quantidade de teclados e mesas de mistura que ele. Chegar ao mais puro dos sons. Pureza sonora que só é atingida, obviamente, no Techno e no House. Já ouvi o Fabric 45 e posso garantir-vos que nenhum outro pedaço de som vindo lá de fora este ano vai soar assim tão bom como este. Ao que parece virá ao Lux este mês de Março. Claro que vai ser imperdível e vai ser basicamente mais uma lição. Omar-S, deste canto da Europa afirmo: daqui a uns anos vais ter companhia. Socalcos.

Mickey Rourke Sabe Tudo

"The Wrestler" é um filme brutal. Brutal no sentido carnal e faz sentido ler em peças de imprensa sobre o filme o título "O Corpo é que paga". Eu não teria abusado nas filmagens à jogo de computador do género tiro em primeira pessoa (também não teria escolhido o cartaz dos Vampire Weekend para estar na sala de estar da filha do Randy), mas a ideia deve ser passar isso mesmo, a vida como um jogo e cada um de nós uma personagem dessa mesma vida. Randy 'The Ram' Robinson é Mickey Rourke e Mickey Rourke é Randy 'The Ram' Robinson. Mickey Rourke jogou a vida e arriscou este filme e ganhou, e de repente é o quase injustiçado dos Óscares. Mickey Rourke Knows Best. Um filme sobre a vida, mas muito mais sobre a morte.