quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aos Vivos

A confirmação no cartaz de um dos maiores festivais de Verão da temporada é recebida com muita alegria. É uma surpresa e também uma confirmação. De que é possível imaginar e construir uma editora de raiz, com um cariz singular e uma independência própria, respeitadora da verdade das bandas com que colaboramos. Amor Fúria aos vivos. Aos vivos de hoje e de agora, porque tudo aconteceu neste momento, nestes últimos anos, na companhia de muitas outras bandas e editoras, agremiações e projectos. E um festival não faz o Verão. Agora é preciso olhar o futuro de frente e continuar a existir. Como os que estão vivos.

terça-feira, 26 de abril de 2011

O Muro das Pétalas

De dois em dois dias, ou talvez de três em três, colocando as palavras soltas em forma de frases, ou por vezes moldando os versos à forma da melodia, muitas vezes sem jeito ou arte. A começar a gatinhar, a perder os primeiros receios, a buscar o muro de apoio firme, ali em frente ao olhar míope. Andar assim primeiro com uma das mãos em apoio nessa parede longa esbranquiçada e por vezes pintalgada de vermelhos vivos e pétalas, imensas e milhares de pétalas a cair, sem nunca tocar o chão. O objectivo é planar, voar alto, aspirar e chegar acima do inimaginável muro que agora me agarro.

domingo, 24 de abril de 2011

Cristo Ressuscitado

Hoje é o dia da celebração da ressurreição do nosso Deus. O amor ressuscitou e a alegria está viva no meio de nós. A razão da nossa fé, Ele vive. Depois de todas as parábolas e profecias, a verdade do retorno à vida. Este é o mistério da nossa fé e do nosso amor. Ontem estava morto e dentro do sepulcro e agora está vivo em espírito e habita no nosso coração. O poder da realização, superação, do acreditar para lá do falecimento. Aquilo que ontem era tristeza profunda é agora puro amor e transbordamos felicidade. A procura interior para uma integração de vida plena na comunhão de Cristo ressuscitado.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Paixão

Este é o dia da morte, da tristeza mais profunda. No momento do maior silêncio ficam as palavras que parecem não conter esperança. As profundezas da Terra tremeram, os céus escureceram, o amor desapareceu. Esta é a paixão pelo mundo e pelos homens, a data que encerra o maior sentimento que poderá existir. Aquilo que hoje se passou também encerra a confusão e a desorientação, a incredulidade e a falta de explicação. A lança que trespassou o corpo, a acidez que invadiu a boca. Hoje nada mais existe e nada mais faz sentido. Esta é a grande tristeza da paixão.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Trovões e Claridade

Foi bom sentir o poder de uma trovoada de fim de tarde, exactamente no dia de folga. O ribombar dos trovões e a claridade dos raios sobressaltam a alma e o coração. Como se avisassem que os tempos do bom e ameno tempo não duram para sempre e que esta semana santa de tempo instável é a configuração ideal para colocar novamente os pés bem assentes no chão, terrenos e fixos. O poder da natureza, das nuvens e da electricidade, ao serviço de uma consciência limpa e de uma alma clara. A importância do barulho surdo e da luz viva.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Memória e Espírito

O espírito é a memória. Esta citação de S. Agostinho explica a importância da memória na nossa vida. A memória permite esta coisa fantástica da eternidade do tempo. A nossa memória é o nosso espírito pois alimenta a esperança de um presente que dura para sempre, pois estamos a criar a memória do tempo que virá. Esse tempo que virá será mais tarde revivido na nossa memória e no nosso espírito. A importância das decisões que tomamos hoje, olhando para trás, para o agora e para o amanhã, não são mais que a memória que queremos viver, um desejo imenso que tudo perdure.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Edifício da Interpress

Ao ler esta entrevista do Noah Lennox, entendo melhor a primeira audição de Tomboy, um disco mais soturno e denso do que esperava. O edifício da Interpress é um edifício que fui conhecendo - gravámos lá as vozes do primeiro disco d'O Verão Azul - e as caves escuras e enclausuradas do seu interior, servem de cenário para as novas canções de Panda Bear. Admito publicamente que as canções de Panda Bear são uma das minhas maiores motivações como produtor. Nos seus concertos Noah Lennox apresenta-se sozinho, por trás de toda a maquinaria sonora e com muito fumo e imagens frenéticas projectadas.

sábado, 9 de abril de 2011

Primavera Gloriosa

A meteorologia dos últimos dias, de calor intenso e vento seco, fez despontar uma Primavera gloriosa. Basta andar pela cidade e olhar para a flora, as árvores e as plantas, as flores e as folhas, para entender a pujança que tem esta estação e em particular este ano. As flores decidiram aparecer todas ao mesmo tempo partilhando as suas cores e os seus cheiros, libertando o pólen que as permitirá sobreviver mais uns milhares de séculos, nesta cidade. A natureza desta gloriosidade, quem sabe irónica, mostra que o tempo da austeridade é combatido com a força da pujante flora desta Primavera.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Templo Ancião

Precisamente daqui a um mês irá realizar-se a cerimónia do sagrado matrimónio na Igreja antiga de um convento do século XVII, descoberta ao acaso numa pesquisa sobre igrejas na zona da residência da nova família. Na manhã do domingo que fomos pela primeira vez à Igreja, reparei na grande idade da maior parte dos presentes. Uma paróquia a necessitar de renovação. A beleza anciã daquele templo, de azulejos antigos, uma nave comprida e alta, um altar-mor pleno de talha dourada, cheia de idosos fiéis, caminhando para a ressurreição. É nesse ambiente de profunda fé e recolhimento, alegria e união, que celebraremos o nosso matrimónio.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

No Exterior

Dias longos, dias que não acabam. O tempo que vai esticando, principalmente quando faz calor. Hoje, ao sair de casa e ao deparar-me com os portões do metropolitano fechados, desloquei-me de autocarro pelo meio da manhã lisboeta rumo à parte noroeste da cidade. No autocarro cheio as senhoras mais velhas riam-se à medida que as curvas e os solavancos sucediam. O desequilíbrio como nota dominante de uma viagem mais rápida do que a de comboio. A superfície revela as suas mais-valias enquanto o subterrâneo faz greve. O sol nunca brilhou tão alto e tão forte como neste final de manhã passada no exterior.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Escritura Lavrada

Na tarde quente do último dia do mês de Março do corrente ano, dirigimo-nos à rua da Mesquita, regressando àquele que foi o meu caminho durante anos quando ia para a Faculdade de Economia, entrando no edifício alto de arquitectura moderna pertencente a uma instituição bancária. Na sala Porto, voltada para Monsanto, reuniram-se os vendedores, os compradores e os fiadores, e assinaram-se os contratos que permitiram a compra da fracção daquele prédio antigo entre Marvila e o Beato. Tudo correu de forma cuidada e breve, até quando alguém sacou as notas do bolso para pagar a despesa inesperada. E assim se lavrou a escritura.