quinta-feira, 26 de junho de 2014

De Junho

O mês avança e já entrámos no Verão, apesar das temperaturas continuarem amenas e haja ainda nuvens no céu. Também já houve uma onda de calor, na altura dos Santos Populares, a noite durou até ao início da madrugada. Os dias longos do mês de Junho, que parecem intermináveis, são mais claros até ao seu final. A distância que nos separa é afinal mais curta do que parece, à distância de um voo de custo baixo, e estamos de novo juntos a passear pelas avenidas. Acabei de regar as nossas plantas, que continuam a crescer e a florir. Nesta noite curta que passa, oiço ao longe o arraial do largo da nossa freguesia em que o sono começa lentamente a aparecer.

domingo, 22 de junho de 2014

Dia Dois do Primavera

O segundo dia do festival foi o primeiro dia com o recinto totalmente aberto, e seria o dia com o melhor cartaz do festival. Começou com o cancelamento do concerto dos Gang of Youths e com o encontro com um velho amigo que me encaminhou para o concerto de Föllakzoid, que estava com alto som até ao momento em que me comecei a dirigir para o lado oposto do festival para me encontrar com a minha mulher para assistir ao concerto dos Real Estate. O sol ainda estava bem alto, as harmonias das canções dos Real Estate soavam perfeitas ainda que ligeiramente baixas para um palco tão grande. Foi um fim de tarde romântico e belo ao som de canções suaves e perfeitas. Quando acabou o concerto de um lado começou o concerto de Midlake do outro. Esta parte do recinto era um autêntico campo de futebol com dois palcos gigantes, os principais, frente a frente. Desta forma foi possível programar os artistas grandes sem conflitos de horários, já que não havia concertos nos dois palcos ao mesmo tempo. O concerto de Midlake foi bom também, apesar de não ter crescido muito. Houve canções antigas de outros tempos e canções novas cheias de coros e virtuosismos de guitarra em longas matrizes sonoras quase sem fim. A seguir vieram as Warpaint, que tocaram a maior parte das canções do seu último disco, com destaque para a "Disco//Very", uma música de dança, segundo as próprias. Foi bom tê-las visto ao vivo, já que tenho ouvido bastante o seu último disco. Mais um bom concerto. Era o dia para ficar no recinto dos grandes palcos, já que seguidamente começou St. Vincent. O alinhamento de concertos era quase perfeito. St. Vincent deu um senhor concerto, daqueles que fica mesmo na memória. Apenas com três músicos a acompanha-lá em palco e uma abordagem minimalista, Annie Clark apresentou as suas canções mais recentes de uma forma irrepreensível, a virtuosa instrumentista e cantora fez questão de tocar guitarra e cantar ao mesmo tempo em todas as canções. Podia ter uma guitarrista de apoio, mas não. Com uma pose super teatral e coreografias geométricas executadas na perfeição conquistou a audiência com a força de um concerto totalmente focado no âmago das canções. Soou melhor do que em disco e aquele teclado Moog tem um som incrível. Depois de St. Vincent dirigi-me para um dos palcos do fim da escadaria junto ao mar, para assistir ao concerto de CHVRCHES, apesar de ter batido contra uma parede de pessoas que já estaria a aguardar o concerto há mais tempo. Foi um concerto que assisti de uma posição distante e por isso não permitiu estar muito dentro do concerto. A electrónica da banda foi sendo debitada enquanto os vocalistas iam alternando as canções em que ora a voz principal é feminina ora é masculina, num concerto a abarrotar de pessoas, num palco que terá sido pequeno para a banda. Fiquei com pena de não ter chegado antes, mas não se pode estar em todo o lado. Estava a chegar o momento mais aguardado da noite, o concerto de Arcade Fire, e mais uma vez foi quase impossível ficar numa boa posição no recinto. Já não via tanta gente num concerto desde os últimos concertos de estádio que fui, ainda era adolescente, e ficámos mais ou menos na linha de meio campo desviados para a esquerda. O concerto de Arcade Fire em 2014 é diferente do concerto mítico de 2005 em Paredes de Coura. Hoje em dia os Arcade Fire são uma instituição róque com créditos já firmados, com quatro discos cheios de boas canções, apesar das canções do primeiro serem ainda as mais épicas e criarem as maiores catarses na audiência. Ver hoje um concerto da banda é ver um espectáculo bem oleado, com um alinhamento que vai buscar o antigo e o mais recente praticamente na mesma dose. Há arranjos novos, com destaque para a percussão de sons metálicos. Todo o palco está desenhado com espelhos e há uma produção de vídeos que vai acompanhando cada canção, por vezes com imagens da banda ao vivo e outras com vídeos já produzidos que nos levam para o ambiente de cada canção. Há um dueto entre o casal da banda em que a Régine aparece no meio do público e olha de frente para o seu amado. É tudo bonito e bem produzido. O concerto dura praticamente duas horas. Há festa espanhola com os bonecos cabeçudos em palco e o concerto chega ao fim com confetti e com a "Wake Up" cantada a plenos pulmões por milhares de pessoas. Mas nessa altura já subia o recinto em direcção ao concerto de Moderat. Cheguei e o concerto de Moderat já tinha começado. Não é fácil entrar num concerto a meio, mas os temas da banda electrónica são fortes o suficiente para ao fim de poucos minutos estar a dançar com aquelas inebriantes batidas de sub graves em acção e muita beleza em forma de som electrónico. Uma forma perfeita de encerrar este segundo dia. Acabei por perder Metronomy, Disclosure e Jamie xx, tudo coisas que posso ver mais tarde em Lisboa. Havia que poupar energia e descansar depois de um dia cheio de bons concertos.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Dia Um do Primavera

Chegámos no dia anterior ao começo do festival, quando ainda há concertos gratuitos, num dos palcos do recinto principal, no caso o palco ATP, e mais concertos espalhados por salas na cidade para possuidores do passe de três dias. Optámos pelos concertos na zona do Fórum, no palco ATP, onde antes trocámos os bilhetes por pulseiras e cartões de acesso ao recinto. O primeiro dia foi de aquecimento, quando chegámos ainda tocava uma banda argentina, Él Mató a un Policía Motorizado. O primeiro concerto a sério para nós do festival foi o de Temples, que foram muito competentes, sem qualquer ironia. O róque dos sessentas, o psicadelismo tão em voga, a voz encharcada com efeito e tudo muito melódico. No fim a primeira chuvada do festival, um aguaceiro que obrigou toda a gente a fugir para debaixo das palas metálicas ao lado do palco ao som da "Shelter Song". Depois veio Stromae, que deu um concerto à entertainer. A legião belga marcou a sua presença em força e nós dançámos como a canção e o concerto mandaram. Chegou então o momento mais aguardado do dia, o concerto da Sky Ferreira. Era ela que queríamos ver. Foi uma semi-desilusão compensada por estarmos a ouvir as canções de um dos nossos melhores discos do ano passado. A Sky estava meio nervosa e o concerto foi decorrendo com imensas falhas, tanto de estrutura de canções como de esquecimento de letras por vezes, mas isso não diminuiu a nossa vontade em aproveitar todos os segundos da sua presença, cantámos as canções, dançaste num concerto, foi tudo bom apesar das falhas, quem é que não falha? O primeiro dia acabou com o concerto de Holy Ghost, sucedâneos da escola LCD Soundsystem, mas mais previsíveis talvez. Lembremos então o facto muito positivo de se ter ouvido cowbell pela primeira vez no festival.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Dos Relatos

Os dias após a estadia em Barcelona têm sido de regresso à rotina. Têm servido também para colocar em dia os assuntos do presente. Há discos para lançar, concertos para organizar e um sítio para recuperar. Para além disso pouco tem acontecido. No último fim de semana decorreu o festival Primavera do Porto e compreensivelmente não estive presente. Fui acompanhando os relatos e fotografias dos amigos pelas redes sociais e fui recordando dessa forma o festival da cidade originária. Por isso e porque assim o quis comecei a escrever o meu próprio relato dos dias do festival catalão. Tenho alguma pena de não ter mais presente a memória das edições de 2007 e 2008, que fui e que recordo apenas através de imagens e sons dispersos. Nos próximos dias irei colocar os relatos no blogue, de forma a recordar mais tarde esta ida a Barcelona.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Primavera de Barcelona

Foi a terceira vez que fui a Barcelona para assistir ao festival Primavera Sound. Apesar de ter havido uma incursão pelo meio, em 2012, no festival irmão mais novo do Porto. O Primavera de Barcelona é hoje um festival estabelecido e que mexe com a economia de uma cidade. Passados catorze anos o festival ganhou estatuto e fama, há quem diga que é o melhor festival do mundo, o que será provavelmente um exagero, há quem diga que se tornou uma feira para várias marcas em que as bandas são apenas um chamariz para milhares de festivaleiros urbanos de toda a Europa e cada vez mais de todo o mundo. Mas há algo diferente no Primavera Sound. É um festival que consegue aliar a grandeza de bandas com imenso estatuto, com artistas que estão a emergir, com bandas de culto de outras épocas, num cenário cada vez mais gigantesco e por isso caótico. E com isto facturar bastante e isso não é necessariamente mau. Aliás até pode ser bom, quem é que não gostaria de poder viver fazendo aquilo que gosta mais?

terça-feira, 3 de junho de 2014

Vibração

Todas as cidades têm uma vibração. Barcelona tem uma vibração muito distinta de todas as cidades. É uma vibração que se sente nas ruas, nas atracções turísticas, nos recantos de uma cidade que não é uma capital, em que não há praças maiores icónicas que possam servir como postais. Há sim detalhes e pormenores de uma cidade que se tornou cosmopolita porque as pessoas que lá vivem assim o são, é uma cidade multi-cultural, onde o turismo é uma força vital e onde ainda existem lacunas sociais, em que as oportunidades não são exactamente iguais para todos, e isso vê-se na quantidade de gente que recolhe lixo nas ruas. Tal como noutras grandes metrópoles do mundo. Em Barcelona há isso tudo também, mas em ponto pequeno, como se uma mega-metrópole pudesse existir numa cidade grande da península ibérica.