sexta-feira, 28 de setembro de 2012

De Basalto

Há sempre uma razão para tudo acontecer de uma determinada forma. Como na frase: razões que a própria razão desconhece. A escolha de um certo momento para tomar uma decisão, que no fim reverteu a própria decisão anteriormente tomada, para ficar tudo como estava mas ainda mais sólido. Quem olha para as pedras de basalto mal consegue imaginar que antes foram lava e agora são apenas destroços quase inertes de cor negra. Procurei a lava quando tomei a decisão de olhar de novo para aquele quadrado e afinal encontrei apenas uma pedra negra de basalto que solidificou e perdeu o calor que a originou, num súbito e arrepiante arrefecimento.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Diplomacia

A diplomacia determinou que estivéssemos a representar o casal e a família em dois casamentos em locais distintos. Não foi uma decisão fácil e obrigou a uma distância, que foi combatida por telefonemas e mensagens constantes. Apesar dessa distância estivémos juntos. Quem me via perguntava por ti e desejava ver-te. O mesmo se terá passado contigo, por certo. Esta foi a forma diplomática de podermos dizer sim a dois momentos separados espacialmente e de marcar a presença da nossa família em dois instantes em que também se afirmou sim. A forma encontrada reforçou a nossa forma de estar perante a restante sociedade. Através da representação em dois locais distintos aumentámos a nossa presença e suprimos uma possível ausência.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Normalidade

A normalidade volta a instalar-se, como o rio que encontra o seu curso habitual depois de uma deslocação de terras. É nesta regularidade que se conhecem outros caminhos para chegar a casa. Outras formas de chegar a um mesmo fim. A normalidade é a consequência de uma escolha que se repete diariamente, até chegarmos ao sítio que nos acolhe no fim do dia. A virtude da instalação desta regra dá sentido a um percurso. É também nesta instalação que um dia resolvemos ver o resto do bairro, as ruas por alcatroar, cenários semi-rurais ao lado de prédios sem varandas e com escadas e corredores no exterior. A normalidade é assim, repetidamente surpreendente.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Acerca do Desempenho

O desempenho ao executar qualquer tarefa exige experiência e conhecimento. Apenas por sorte ou acaso é que se executa bem sem estas qualidades. A ignorância e a crença não são as melhores conselheiras para quem quer cumprir o papel que lhe confiaram. A vontade e o ímpeto, quando não se sabe, apenas acrescentam mais certezas de que vamos errar e falhar. O maior problema é não assumir que não se sabe, por orgulho próprio e para não dar a parte fraca. Ímpeto e ignorância não devem andar unidas. É normal que haja vontade quando nos confiam um cargo ou uma tarefa, mas a maior inteligência é a da humildade, a de assumir que ainda não sabemos, porque ainda não aprendemos ou compreendemos. Acertar e desempenhar bem começa sempre por aqui.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Verdura dos Mares

A verdura dos mares, das ondas que se vão formando, aguarda ainda o descobrimento. Procuro ainda a candura do que é simples. É a morna que balança cá dentro. Um ritmo quente e lento, palpitação de um coração de um corredor, de um salteador. A aventura que se faz olhando para dentro e para a frente. Ao mesmo tempo. E os peixes e aves acompanham-me. Fazem-me companhia na viagem, do lado de fora. Quando olho pela janela vejo-os a voar e a nadar. Encontro nos animais a simplicidade que busco incessantemente de uma forma diária. É a verdura das águas, e a dança que vejo e sinto é cada vez mais lenta e forte. Deve ser assim que se originam todos os nossos desejos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Labareda

A labareda flui lenta e suave
na montanha sobe, arde
chama os sons e estilhaça
a memória e o esquecimento

A chama tinge o céu laranja
do livro, de páginas folheado
lido, sorvido depois de pousado
flores que jazem nesse chão

É terna e ardente leitura
do corpo em chama, do espanto
queimando a ponta dos dedos

Sara as feridas do corte
tão dócil, adormece com encanto
fechando as pálpebras dos olhos

domingo, 2 de setembro de 2012

Da Chegada

Saber chegar bem, após uma viagem que se revelou curta, segura e sem muito trânsito. Esta é uma maneira de colocar um registo positivo numa viagem curta e certa. Depois há a outra chegada, o momento em que se chega. Neste momento encontro a resolução e reencontro o propósito. Foram alguns dias de descanso para alguns meses de decisões permanentes, desafios que acontecem e rumos que se desbravam. E afinal, tudo está decisivamente a avançar para a tão desejada harmonia. É chegando que se entende, percorrendo as vias de forma prudente, colocando o registo positivo quando chegamos bem e seguros, de mais um período de praia e de sol.