sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Segundo Sorriso

Como dizia no meu último texto, que escrevi há um mês, o ano que passou foi marcado pela morte e pelo nascimento. Acabo assim o balanço a recordar o nascimento do meu segundo filho. O segundo filho é como o nome indica, o segundo. Isto pode parecer menor num tempo em que o que interessa é ser o primeiro, o melhor, o maior, mas é precisamente o contrário. O segundo filho prende a atenção do pai porque é o seu maior fã, ele ri-se muito para mim, mesmo. E eu rio-me muito para ele. Somos familiares desde o seu nascimento, desde a sua concepção, desde que pensámos nele. A sua mãe e eu. Por isso o seu nascimento é uma grande alegria, uma dádiva enorme, um segundo passo na construção de uma família grande e unida. Pelo menos assim a imagino. É também por ele que escrevo este texto, este pequeno testemunho no grande oceano das palavras. Para que quando um dia não haja mais nada para escrever eu me lembre deste tempo em que tu só sorrias para mim.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Tempos Antigos

É mais um ano que está a chegar ao fim, mas este não é mais um ano qualquer que termina. É um ano marcado pelo nascimento e pela morte. Começo por relembrar a partida de um dos irmãos da minha mãe para juntos dos seus pais, para junto dos meus avós maternos. Foi com o meu tio, o irmão mais novo da minha mãe, que comecei a gostar de ouvir música, observando a colecção de cassetes com músicas gravadas da rádio ou escutando a criação de programas radiofónicos piratas, quando ficava a dormir em casa da minha avó. Isso mesmo me foi relembrado pelos amigos mais próximos do meu tio no seu velório, ao dizerem que eu com três ou quatro anos ficava no quarto do meu tio com ele, a acompanhar a sua convalescença de um acidente de viação. Recordo assim a vida do meu tio, a sua paixão que se tornou minha, a sua partida e a sua falta, a morte que nos vai levando a memória dos tempos antigos.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Tela em Branco

Uma tela em branco, uma nova oportunidade de recomeço, uma temporada que se inicia e o Inverno que não chega. Há um tempo para semear e outro tempo para colher. Tudo isto faz parte e tudo se encaminha para o final, esse chega sempre. São os dias de Outubro, de dias que encolhem à medida que vão passando, horas que mudam no fim de mais um período mensal, ainda sem as conclusões que são necessárias para começar de novo a escrever ou a cantar. São decisões que foram tomadas mas que ainda não foram implementadas, por falta de oportunidade ou de coragem. São estas as telas em branco em que coloco os meus pensamentos, as minhas vocações e as minhas vontades. O tempo interior continua o seu processo, em liberdade, em consciência, sem a perturbação de outros tempos, sem a confusão de outras idades. Seja ele qual for o destino final, que vai chegar sempre.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Tempo Interior

A chegada do segundo filho muda ainda mais o ritmo da nossa vida. Assistimos a uma condensação do tempo, em que a chegada do período de descanso origina uma densificação das horas do dia, principalmente no momento em que chegamos a casa até estar tudo a dormir. Não era expectável, por exemplo, que passasse tanto tempo até voltar a escrever sobre a continua passagem do tempo e aquilo que nos vai acontecendo, mas foi isso mesmo que sucedeu. Os dias transformam-se em pequenos pedaços de tempo que juntos parecem apenas alguns dias, mas de facto já passou um mês e assim sucessivamente. Os meses passam a ser semanas, os anos passam a ser meses. É essa a transformação do aumento da família, passamos a ter o nosso tempo interior, que passa à velocidade da luz e o tempo exterior, calculado na mesma ordem de medida de sempre. O tempo não fica mais curto, mas parece que encolhe.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Água Salgada

Uma das maiores compensações de passar o período de férias no mesmo local é a construção e acumulação de memórias. A mesma água salgada dos banhos de água morna dos primeiros tempos de casamento é a mesma água em que o nosso primeiro filho deu os primeiros passos com a ajuda dos pais e é também a mesma água dos saltos para as piscinas que agora construímos no meio da areia. O mar é local de memória, de passagem e de testemunho. A restante vila continua praticamente igual desde o primeiro ano que vim para cá, o mesmo turismo, democrático e ecléctico, de multidões que acabam invariavelmente em frente ao mar. Há quem pernoite nas rulotes ou nos hotéis, nos apartamentos ou nas moradias, para no dia a seguir caminhar religiosamente pelo mesmo trilho até chegar ao mar, à praia, à água salgada que irá banhar todos esses corpos. Este será o sétimo ano consecutivo em que passo as férias em família neste mesmo local criando memórias de água salgada.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Da Obediência

A obediência advém quase sempre da autoridade. Devo chegar à conclusão que a minha autoridade é praticamente nula perante o meu primogénito por vezes. Chega a ser quase desesperante tentar dominar uma criança de dois anos com sono no meio de um espectáculo de golfinhos. Estamos no domínio do surreal e as músicas ainda só agora começaram. Os golfinhos saltam por cima da corda, a máquina fotográfica cai ao chão, a dança é uma estranha forma de espernear. São imagens que ficam perante a falta de obediência ou falta de autoridade. Passados alguns minutos adormece-se no carrinho de passeio e os leões, elefantes e macacos ficam para outra visita. A felicidade é também composta por esta impossível equação de equilíbrio entre a liberdade, a autoridade, a vontade própria e a obediência.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Verão e Trabalho

É altura de voltar ao mecanismo das semanas de trabalho, em que os dias se sucedem uns aos outros numa cavalgada incessante e ritmada. Apanho os transportes de manhã e ao fim da tarde e apesar de ser Verão estão cheios, seja por supressão na oferta, seja pelo aumento de procura dos turistas que invadem este pedaço de terra que é esta cidade que habito. Não me posso queixar muito contudo, porque também usufruí dessa forma de transporte quando viajei para outra cidade da nossa península. Mas é a realidade actual e é difícil conviver com ela. As tarefas são as mesmas, mas há mais trabalho, tanto o acumulado como o que deixa de ser feito porque temos mais gente de férias. De forma resumida, é um tempo em que estivemos ocupados com a família e a descansar do trabalho e agora chegamos a casa com as tarefas familiares já praticamente todas feitas, para passado poucas horas voltar a sair de casa para mais um dia a trabalhar.

sábado, 15 de julho de 2017

Eternidade

Tudo começa com o corte do cordão umbilical, o primeiro choro, o toque pele a pele, a primeira mamada. Tenho tido o privilégio de assistir aos primeiros momentos dos meus filhos. No nascimento do segundo cortei o cordão umbilical, que liga o bebé à mãe. O momento do parto é de uma violência amorosa clara. O esforço conjunto da mãe, do bebé e da equipa hospitalar conflui no nascimento, em que vemos e tocamos o recém-nascido. Recordo aquilo que já escrevi anteriormente sobre isso. Agora que já passaram alguns dias desde o nascimento é bom reviver esse tempo, como um filme em câmara lenta em que as imagens param e o som é sustentado por uma nota só durante largos segundos que parecem eternos. É essa eternidade que alcançamos quando somos testemunhas de um tão grandioso acontecimento. Ficamos para sempre marcados, eternamente imbuídos de felicidade.

domingo, 2 de julho de 2017

Família Completa

Seriam cerca das oito horas da noite quando recebi o telefonema da minha mulher que ligou para casa. Tinha o telemóvel no silêncio e estava a preparar-me para deitar o filho mais velho. "Pedro, o António teve alta." O sol quase a pôr-se e vesti o nosso filho de novo para ir buscar a família ao hospital. O filho mais novo já tinha nascido há uns dias, mas ainda não tinha condição médica para sair até ontem. A excitação era muita, houve pulos e manifestações de alegria. Chegámos ao hospital e abraçámo-nos. Após a última refeição do mais novo na maternidade, voltámos a casa e entrámos pela primeira vez como uma família completa. Finalmente e passado tantos dias estávamos todos juntos. Houve algo de ficcional e ao mesmo tempo natural nesta chegada da nossa família a casa. Um momento de uma página de um romance, um episódio quotidiano dos próximos anos em família.

sábado, 24 de junho de 2017

Personalidade

Os tempos são de paciência e de espera, para passar a ser uma família maior. Está quase, está mesmo quase. Mas não é dessa espera que escrevo agora. Tenho tido a oportunidade de passar muitas horas do meu dia com o meu filho mais velho. Tal como a flor que deixa a sua semente, o meu filho cresce e vai começando a demonstrar toda a sua personalidade. Afirmativa e independente, meiga e dócil, cheia de doçura e ternura. Ao mesmo tempo bruta e física, impaciente e mandona, cheia de força e agressividade. Sou um pai muito orgulhoso deste meu filho mais velho, à medida que o conheço cada vez melhor e vou dando por mim a chorar por dentro por não poder estar cá para sempre, a sua vida toda, para o ver crescer ainda mais. A beleza da paternidade em todo o seu esplendor. Um filho é sempre uma parte de nós, um ser autónomo que depois parte para um lugar próprio. São estes os sentimentos que vou tendo enquanto o tempo vai passando até chegar o segundo filho.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

A Viagem

Não escrever sobre aquilo que se passou pode ser uma afirmação pessoal, uma distinção em relação a outras vezes, uma transformação contínua, sem forma ou sequência lógica. Viajei sozinho e encontrei gente. Pessoas que adicionaram à experiência individual, tornaram-na colectiva, próxima do comunitário. Viajamos para nos encontrar. Essa faceta não foi diferente desta vez. A cidade que me acolheu durante os dias que passaram é a cidade que me é mais familiar após a minha cidade natal. A deslocação entre os bairros e os locais, a pé ou de transporte público, assim o demonstram. A vivência do momento foi igual, o que mudou foi a deslocação. A transferência do corpo e da alma de um sítio para outro. Essa foi mais fluída, natural, espontânea. Essa liberdade de movimentos ao longo dos dias que passavam, o andamento rápido, a caminhada contínua, a amostra em repetição. Nesse sentido esta foi a viagem.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Da Taça

Chovia o quanto baste para dizermos que o mês de Maio não podia trazer tanta chuva aquando da passagem pela saída da autoestrada que vai dar ao estádio quando o locutor narrava a jogada do primeiro golo do clube do meu coração. Golo, é golo. Foi golo e eu a caminho de casa com a minha família depois de mais um almoço de família na linha de Cascais com os meus avós. Foi o mais próximo que estive da festa da taça. Talvez um dia regresse a esse convívio. Ou talvez não. A chuva continuou a cair até chegarmos a casa e vi o fim do jogo na televisão. Depois de mais uma semana de trabalho, de mais uma semana de rotina, ali estava eu a sorrir para o ecrã. São dias de glória e de vivência através dos planos televisionados. São estes os domingos que passo junto aos que são muito importantes, mais importantes que um desporto, um jogo de futebol, que uma bola a entrar numa baliza. Até que a chuva pare e volte a cair.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Gratidão

É acima de tudo gratidão aquilo que sinto quando passa mais um ano, mais um aniversário, comemorado com quem está comigo quase diariamente. Essa gratidão estende-se e amplia-se durante o ano, apesar de eu não saber demonstrá-la. A semana foi fecunda em acontecimentos memoráveis e muitos irrepetíveis e passou mais um ano. Ou será menos um ano. Sopro as velas, deito-me no sofá, sou criança novamente, serei velho eternamente. Algo assim como a matemática dos números que somo e vou diminuindo. A festa é no Marquês com desconhecidos e apenas um amigo de longa data que vai vivendo na Andaluzia. Somos milhões e uma só alma, é a letra da canção. A alma vai alegre, triste, sonhadora, desolada, lacrimeja e ri. São trinta e seis títulos, aniversários, somados uns a seguir aos outros. Sou pai, filho, neto, fui bisneto e aquilo que serei no futuro não sei, mas sou grato.

sábado, 6 de maio de 2017

Dez anos

Foi há dez anos. Lembro-me desse ano que passou há dez anos. Começo a recordar quase tudo o que passei nesse ano: a viagem ao festival da Catalunha, o Verão sem fim no Algarve, a noite de magia do fim de Dezembro. Era um quarto de século vivido e uma vida nova a nascer. Foi já há tanto tempo que tudo se passou e só agora é que começo a assimilar a importância desse ano a nível pessoal. A madrugada que começa ajuda a memória. A probabilidade de terminar este blogue é cada vez maior, porque é novamente nesse momento que me encontro, como há dez anos. São ciclos, passagens, viagens, memórias, escritas, recordadas, pensadas e reflectidas. Gosto de saber que ainda recordo bem as caras que fizeram parte dessa vida que deixei nesse ano. Passado tanto tempo já não sei de quase ninguém. Recordar isso é bom e faz parte da transformação e da realização.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

De Mudança

Agora que começamos a pensar numa possível mudança de casa, é imperioso recordar o tempo em que viemos viver para esta rua, para este bairro. A vida é feita de mudança e a nossa zona não é excepção. A zona que antes era um local pitoresco e sossegado, com algumas galerias de arte e oficinas de automóveis, tornou-se o novo local da moda da cidade, e como cogumelos, começaram a nascer restaurantes, bares, cervejarias tradicionais e até mais galerias de arte. Ainda se mantêm os ateliers de arquitectura e as oficinas de automóveis. É interessante observar esta mudança do ponto de vista de quem mora aqui já há alguns anos. É a invasão da cidade sobre o que antes era quase proscrito. Nós próprios também viemos à procura disso, da autenticidade de um lugar, um bairro, que nos pudesse acolher, em que fosse possível crescer, em idade e em número. A família cresceu então neste lugar que é cada vez mais urbano e local. Talvez também por isso está a chegar a hora de procurar uma mudança, para revitalizar outra zona da nossa bela cidade.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Quaresma

Com o passar do tempo fui percebendo que o único jejum que tenho feito esta quaresma é o jejum das redes sociais, como já o fiz noutros anos. O tempo começou a tornar-se num bem cada vez mais escasso, com a rotina familiar cada vez mais oleada, o tempo começou também a ficar mais dividido entre tarefas profissionais, caseiras e as actividades de lazer. Hoje começa a semana santa, período de reflexão interior rumo aos dias de Páscoa. Aproveito esta altura para reflectir sobre o meu percurso, a sua origem e o seu destino, avaliar as decisões e os passos que percorri. A ajuda do silêncio, da oração, da espiritualidade nessas decisões é fundamental para saber o que não voltar a fazer porque não estive bem e saber o que devo procurar fazer porque estive certo. Este jejum, este silêncio nesta quaresma, é uma forma de continuar a dar importância ao que é realmente importante.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Inverno

As estações do ano estão a ficar diferentes. Estamos no Inverno e parece que já é quase Verão e para a semana será Inverno novamente, apesar de começar a Primavera. A confusão é muita mas vamos tentando ver o lado melhor de tudo isto, fomos feitos para uma estação do ano apenas. Durante muito tempo a minha estação foi o Verão, ou a Primavera-Verão, como se diz no mundo da moda. Com o passar dos anos tornei-me invernal. Fui-me tornando Inverno. O Inverno é frio, só temos sol de vez em quando com as nuvens sempre a ameaçar voltar, são nortadas fortes e chuva na cidade. Damos valor ao aparecimento do sol. É no Inverno que neva, apesar de na minha cidade não nevar. Hoje que estamos a terminar mais um Inverno já só conto os dias que faltam até o próximo Inverno começar. E pensar que tudo começou com a preferência natural do Verão deste clima mediterrânico para terminar a pensar que poderia ser sempre Inverno.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Dias de Grandvalira

Os dias de Grandvalira foram incríveis como estávamos à espera, passados num paraíso natural transformado pelo homem numa grande área esquiável, com neve quase virgem ao início da semana e no fim tratada durante a noite e com todas as pistas e zonas abertas para esquiar e descer para voltar a subir. Grandvalira é uma estância de esqui imensa e com pistas para todos os níveis, há dezenas de telecadeiras e algumas telecabines para nos levar até aos topos, num serviço de imensa qualidade, mesmo em condições meteorológicas adversas. O início da semana foi marcado por ventos quase ciclónicos a partir do meio do dia e temperaturas negativas e o fim da semana trouxe o sol e temperaturas primaveris. Do Inverno rigoroso à Primavera solarenga em apenas alguns dias no domínio montanhoso andorrenho. São dias para mais tarde recordar, tal como noutros anos anteriores em que estivemos neste local.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Paisagens de Montanhas

São paisagens de montanhas e mais montanhas com cumes cheios de neve, teleféricos e comboios que nos levam até lá. Começamos a subir e passamos pelo meio das nuvens baixas que depois parecem algodão sobre as margens dos lagos, e vemos as cordilheiras, os vales, as escarpas, as rochas e a neve. Ao chegar apanhamos o comboio que nos leva até ao topo, são linhas ferroviárias antigas e um meio de transporte no meio da montanha, que tanto serve para levar os amantes de desportos e actividades invernais como os turistas nipónicos que invadem estes lugares. A sensação de um país das mil maravilhas, de um tempo cristalizado, de uma paisagem deslumbrante, de árvores, bosques, caminhos estreitos, pistas de esqui e trenó, com vários locais para passar a noite e relaxar, seja a apanhar sol numa cadeira seja nas termas. Tão depressa não esquecerei este dia nas montanhas.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Dia de Folga

Seria um dia como todos os outros da semana com a diferença que não iria trabalhar. Aproveitei para acordar à mesma hora de sempre e fui ao ginásio de manhã. Voltei a casa para almoçar e saí novamente a seguir ao almoço e fui ao meu antigo colégio. A cidade natal a ser percorrida de lés a lés, de autocarro, de metro, de comboio. Regressei a uma das avenidas em que mais gosto de passear a pé, lanchei numa pastelaria típica da minha cidade, um pastel, um sumo natural e uma bica. Depois fui buscar o meu filho à creche, tive uma reunião com a educadora e voltei para casa com a minha sogra, que nos deu boleia de volta. Há dias em que a recordação é inesperada e repentina. Não foi assim neste dia, a recordação do dia que passou foi programada como se fosse um dia normal de trabalho, com horas para cada uma das tarefas diárias. Assim se passou um dia de folga a meio da semana.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Reviver

Os dias de Janeiro são passados na nova rotina que já começou a tornar-se habitual. O frio destes dias é normal para a época, lembra-me os anos anteriores. Se na nossa terra o frio varia entre os dias de nevoeiro e os dias de sol e luz, noutras paragens tem provocado os maiores nevões dos últimos anos. Este será o ano do regresso a Andorra e às paisagens dos Pirinéus e até lá vamos preparando e pensando na viagem e na estadia. Será uma semana branca no meio das montanhas, de cansaço físico e descanso mental. Mas será sobretudo, como já o foi no Inverno passado, um regresso no tempo às viagens de família nos anos noventa, para recordar o tempo que já foi. O passado torna-se presente, sempre a mesma tónica no destino, na viagem, nas pendentes. Reviver os momentos que mais nos marcaram e que estão no mais profundo da nossa memória.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Papel Secundário

Ser pai é estar preparado para poder substituir a mãe nas ocasiões em que isso é preciso. Aparentemente pode parecer um papel secundário ou alternativo, mas não o interpreto assim. Estar preparado para substituir a mãe é estar à altura dela e só isso já é muito. Acordar cedo e ouvir o nosso primogénito a chamar pela mãe, para depois pegá-lo ao colo, no forte abraço matinal de mais um dia é como regressar aos braços dos nossos pais quando ainda mal dizíamos as primeiras palavras. A mãe descansa e é hora para fazer a papa e ver os bonecos animados da manhã. Acordar com uma criança madrugadora é assim, sorrisos a toda hora e exigências de mudança de programa. O papel secundário é afinal o papel principal, somos pais e estamos cá para os nossos filhos.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Vida velha

Hoje é o primeiro dia de Janeiro. É Inverno, faz frio e o aquecimento está ligado. A minha família dorme a sesta e estou a ouvir canções para comemorar a entrada no novo ano. Vou buscar uma manta para me aquecer um pouco mais e escrevo mais umas palavras. Este ano tudo vai mudar como mudou nos anos anteriores. Esta é a novidade pouco nova. Ou a repetição do tempo cronológico que se vai marcando nos dias do calendário perpétuo. Ano novo, vida velha. Vida velha e vivida. São assim as primeiras palavras do ano, cheias de antiguidade e de frieiras nas mãos. Talvez este seja só mais um ano que passa ou então será o último dos anos, aquele que marca e fica para sempre. Será o que for, o que o tempo, as flores, as nuvens, a atmosfera, o fumo e as cores deixarem ser. Como o fim desta canção que agora oiço e só tem guitarras e ritmo a decrescer até terminar.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Já está

Ao início do dia chegou o bolo, com uma figura tridimensional de um boneco animado, o seu preferido. Ao início da tarde chegaram os balões para a festa. Tudo se ia preparando para a festa do segundo aniversário. A meio da tarde fomos buscá-lo à sala na creche e cantámos os parabéns com todos os meninos da sala e as educadoras. Tinha uma coroa com o número dois e comeu três vezes um pedaço de bolo. Depois repetiu várias vezes "já está" e fomos para casa em família. A festa ia começar. Primeiro chegaram os bisavós e depois os avós e os tios. Chegou o momento principal, acendemos a vela do bolo de aniversário e começámos a cantar os parabéns a você. O momento mais especial ficou guardado até ao fim da canção. Nesse momento o nosso filho soprou a vela como gente grande e sorriu. Por fim repetiu várias vezes "já está". Foi nesse momento que se celebrou a vida de uma criança muito querida e assim se cumpriu o seu segundo aniversário.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Comboios

São comboios que apanho dentro da cidade para me movimentar. A vantagem dos comboios sobre outros meios de transporte é a sua passagem à hora programada. Por norma os comboios chegam sempre à mesma hora todos os dias. Isso permite imaginar uma rotina programada, um período de saídas de casa a horas específicas. A nova rotina que já se instalou não permite atrasos ou experiências. São horas específicas para acordar, para comer, vestir e sair. Apesar de ir sozinho, vou acompanhado por muita gente que tem exactamente a mesma rotina e raciocínio. O comboio pára nas estações, as pessoas entram e saem, o comboio segue a sua viagem até ao destino final, até chegar o dia de amanhã. No meio do caos de trânsito automóvel que se apoderou da cidade, andar de comboio pode significar a pacificação da deslocação pendular que obrigatoriamente todos temos de fazer para ir e voltar do trabalho.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Palidez

Já não há muito mais para escrever no meio deste Outono que se vai instalando. Constato essa chegada nas folhas que caem das árvores, nas estradas em que circulo, fazendo viagens de ida e volta de um destino para outro. São folhas castanhas, amarelas, pálidas, velhas, caducas que caem lentamente ao som e sabor do vento. São pálidas e lindas. Caem pelo chão. Descrever este vislumbre é olhar para esse momento da descida da colina quando estamos parados no sinal vermelho à espera de arrancar. Coloco a primeira mudança e acelero até chegar ao sono tardio de mais um dia que passa. Esta magia de tudo acabar e recomeçar de novo, a palidez que vira alegria, a velhice que se torna infância, a época das luzes nas cidades que regressa todos os anos. Será que haverá algo mais para escrever.

domingo, 20 de novembro de 2016

Velhos

A noite parecia ser mais uma noite normal de mais um dia da semana, esperava o autocarro na paragem para ir a mais um concerto. A banda já tinha começado a tocar quando entrei na sala, havia imensa gente para entrar ainda. As canções iam sendo tocadas para gáudio de alguns e para indiferença de outros, ia encontrando amigos e conhecidos à medida que me ia aproximando da frente do palco. As canções de ritmo lento prosseguiam a sua apresentação ao vivo. Até chegar o encore, nessa altura há uma descarga rítmica e sonora mais forte, há corpos a mexer e a abanar, até chegar o fim com a última canção. Não foi o melhor concerto de sempre, foi apenas mais um concerto em que se chegou a casa ainda a tempo de descansar para o dia seguinte de trabalho. É que parecendo que não estamos a ficar velhos.

sábado, 12 de novembro de 2016

Agora

As emoções próprias destes momentos não apareceram como das vezes em que tudo estava a começar. Recordo a emoção das primeiras audições da banda que originou a editora que agora se finou. Nessa altura o coração batia rápido e certeiro, tinha encontrado algo diferente, emocionante. A partir daí construímos uma casa editorial que para a história ficará como algo entre o revivalismo do roque dos anos oitenta e uma excentricidade de alguns rapazes burgueses do Campo Grande. A noite do fim ficará para sempre marcada pela versão da nossa canção, batidas lentas e fortes e os acordes e as palavras entoadas à maneira de um funeral. Algo que nunca conseguiríamos atingir. A tarde-noite do enterro final foi um convívio como nos primeiros tempos de Alfama ou Anjos, em que éramos alguns artistas e amigos a cantar umas canções. Agora o tempo é outro, muito mais sério e regular, muito menos emocionante e muito mais previsível. Essa talvez seja a maior emoção agora.

domingo, 30 de outubro de 2016

Do Siso

Tenho tomado os comprimidos para as dores de quatro em quatro horas e fiquei em casa a descansar. A extracção de um dos dentes do siso, que teimosamente fui adiando, correu bem apesar da dureza do osso e da raiz que entortava e não deixava o dente sair. Marquei a consulta para a manhã do primeiro dia do fim de semana, para recuperar até segunda-feira. No final há mais um espaço vazio na minha boca e daqui a umas semanas arranco o último siso. A minha avó octagenária, que me telefonou à tarde para saber se tinha corrido tudo bem, disse-me logo que tinha ganho mais juízo. Como se a extracção de um dente me desse imediatamente mais sensatez e discernimento. Não deixa de ser curioso que após as mudanças profissionais e os fins anunciados de projectos editoriais haja um pouco mais de tino e de responsabilidade.

sábado, 22 de outubro de 2016

Absoluto

Passou o tempo e não existiu nada para escrever. O silêncio tem tomado cada vez mais este espaço, até chegar o tempo de ser absoluto. Como os pingos de chuva que caíam enquanto esperava o autocarro da rede da madrugada com os meus antigos mocassins calçados e via os carros e os táxis a passar. Em silêncio. Isto já depois de mais uma festa de aniversário numa casa na Lapa. Prepara-se o funeral da editora que um dia foi a razão da existência deste espaço. O pensamento desse dia entristece os dias que vão passando e desse acontecimento, mas como já foi escrito antes: das ruínas construiremos o futuro, da morte faremos vida. Para já é só o silêncio que vai dominando e alastrando. Não deixo de pensar que isso pode ser bom, preparar o que vem sem dizer a ninguém o que se passa.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Dia de Trabalho

Amanhã é mais um dia de trabalho, é feriado e há trabalho para desempenhar. Não há folga de meio da semana, a compensação é justa para quem abdica do descanso para trabalhar. Tem sido assim há alguns anos, não me posso queixar porque sempre me ensinaram que quem trabalha é recompensado. No meu discurso de motivação falei acerca disso mesmo, do desempenho no trabalho, na capacidade que todos temos de melhorar apesar de já fazermos bem tantas coisas, de termos de ser nós a fazer, porque senão alguém virá fazer por nós essa mesma função. Até ao dia em que surge algo melhor, algo que compensa mais, em que somos ainda mais valorizados. Só desta forma, motivado e positivo, se evolui e se cresce. Para que o dia que hoje acaba seja a base do degrau que subimos amanhã.

domingo, 25 de setembro de 2016

A Infância

É a infância que volta a estar perante os meus olhos, perante o nosso olhar de pais. A vida passou a ter este sentido. Olhar para a infância é reviver o que já passou e agora volta a acontecer. É quase sempre assim, quando temos o privilégio de acompanhar o crescimento de uma criança. Vemos escorregas, baloiços, carrinhos, jogos, brinquedos, peluches, bolas, baldes, blocos de encaixe para construir, tudo aquilo que uma criança acaba por ter perto de si. Muitos episódios repetidos de bonecos animados, de coelhos gigantes a bombeiros salvadores, passando pelos inevitáveis animais de quinta, galinhas, porcos e afins, que agora surgem em todos os ecrãs, dos televisores aos telemóveis. As horas de lazer, as horas em que não estamos a trabalhar, são normalmente passadas nesta rotina infantil. Apenas mais uma forma da nossa infância regressar à nossa vida.

sábado, 17 de setembro de 2016

Madrugadas

A lua já vai alta nesta primeira madrugada após o início de mais um tempo novo. A passagem do tempo e o seu significado sempre foram o mote para a criação e para a produção de texto carregado de letras e de frases. Agora chegou o tempo de começar a dedicação ao tempo físico, à exigência e à concentração. À representação de um papel na vida real. É por isso que as entradas são cada vez menores e as aparições públicas cada vez menores. Poderá chegar o tempo em que seja possível regressar ao espaço público de uma forma mais fulgurante e significativa, se isso fizer algum sentido. Neste momento é a passagem do tempo que me ocupa, ponteiros de segundos a rodar. Este é o tempo das novas madrugadas de lua cheia alta e luzidia que entra pela janela da minha cozinha.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Recomeço

São férias grandes que acabam e passado uns tempos voltam, é o calor que fica na mesma. Há o recomeço natural do regresso à cidade, ao bairro, à rua. Desta vez o recomeço é um pouco diferente, bastante diferente, para dizer a verdade. Há mudanças a ocorrer a nível profissional, de processos que surgem de um momento para o outro, como acontece quase tudo. Pensa-se e tudo começa a acontecer. Desfazemos os planos e refazemos outros. Damos tudo, todo o tempo, para aproveitar uma situação que surge, aprender algo novo que ainda não sabemos fazer bem. A arte de gerir o tempo, de gerir um processo, de gerir uma equipa e voltar no dia seguinte para continuar a fazer tudo de novo. Como vai ser? Como irá acontecer o futuro? Não sabemos ainda, apenas sei que vou continuar a trabalhar para tornar o amanhã uma possibilidade. Vai acontecer.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

O Crescimento

Observar o crescimento de um filho poderá ser a maior dádiva que recebemos após a dádiva da nossa própria vida. Estamos a testemunhar a evolução e a progressão de um ser que já foi bebé e agora é uma criança que já anda, corre, cai e começa a comunicar connosco. No período de descanso semanal fomos até à vila turística voltada para o Atlântico, foram as festas da vila e aproveitámos para estar com mais família que contribuiu também para o crescimento. Houve danças ao som de música urbana, jogos de esconde-aparece, tropeções e galos na testa, houve molas de roupa como brinquedos, comida no chão e medo das ondas grandes. Ouvem-se as primeiras palavras: mais, não, avô, quero, mãe, papá. É no meio desta novidade que nos deitamos para mais um dia de trabalho, a relembrar o último fim de semana.